O embaixador do Brasil junto à Organização das Nações Unidas (ONU), Ronaldo Costa Filho, afirmou, esta quarta-feira, à Lusa que o seu país tem feito um "esforço muito amplo" para promover da língua portuguesa no mundo.
No âmbito dos 25 anos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), o diplomata destacou o trabalho que o Brasil tem desenvolvido na projeção do português, com foco na Rede Brasil Cultural, hoje denominada Rede de Ensino do Itamaraty, cuja "vocação é a promoção e difusão da língua portuguesa e da cultura brasileira no exterior".
De acordo com Costa Filho, essa tem sido uma das principais ferramentas usadas pelo Brasil na promoção do português, estando presente em mais de 40 países, em cinco continentes.
"Através dessa rede, são oferecidos cursos de língua portuguesa em todas as suas vertentes. O português pode ser ensinado como uma língua estrangeira, língua de herança ou como uma língua não materna. Então, todos esses focos estão presentes nesse esforço. A rede conta também com leitores, ou seja, professores que atuam em universidades no exterior nessa promoção", explicou.
Paralelamente a esta rede de ensino, o Itamaraty - nome como é conhecido o Ministério das Relações Exteriores do Brasil -, tem, anualmente, um programa de atividades de língua portuguesa conduzido no exterior pelas embaixadas, consulados e missões por todo o mundo.
"Como exemplo de uma actuação nessa área, nós promovemos a comemoração do Dia Mundial da Língua Portuguesa todos os anos. Em 2021, foram 124 eventos, realizados por 56 postos em 48 países ao longo do mês de maio. Esses eventos incluem conferências, debates, lançamentos de filmes, vídeos, livros, revistas, plataformas virtuais, concursos literários", entre outros, detalhou o embaixador.
"É um esforço muito amplo que o Brasil, através do Ministério das Relações Exteriores, conduz com vista à promoção da língua portuguesa no exterior. (...) É um trabalho que tem resultado e ao qual o Brasil atribuiu grande importância", salientou.
Entre os principais beneficiários da rede de ensino oferecida pelo país sul-americano, o diplomata identificou os alunos estrangeiros que tencionam estudar no Brasil e que aproveitam esses cursos de português para se prepararem para o período em que viverão no país.
Ronaldo Costa Filho tem sido um dos principais porta-vozes do Brasil sobre a importância que a promoção do português pode, e deve, ter.
Contudo, o embaixador reforçou que o trabalho a fazer pela CPLP "nunca está concluído" e que "há sempre mais a fazer" nesse sentido.
"É um trabalho continuo. Nunca se poderá dizer que concluímos a tarefa de difundir o português no mundo. (...) O Brasil e os membros da CPLP são todos parte de uma comunidade internacional e a realidade internacional exige que nós nos conheçamos melhor, para que possamos ajudar-nos e cooperar. E a difusão do português faz parte desse esforço", disse.
"Aqui, nas Nações unidas, todos as missões dos países da CPLP têm uma relação muito boa e procuramos atuar em conjunto quando é possível. Evidentemente, não é sempre que coincidem plenamente os objetivos e interesses dos nove membros, mas, sempre que possível, trabalhamos em conjunto", admitiu.
Sobre o consumo da cultura em português, como literatura ou música, Costa Filho contou que não são raras as vezes em que, em Nova Iorque, cidade norte-americana onde reside, acaba por escutar músicas em língua portuguesa a serem transmitidas em diferentes ambientes.
"É algo que acontece bastante. Mas não é fácil, porque não é uma língua de grande tradição nessa área. Enfrentamos outras línguas que têm já mais penetração na divulgação das suas músicas e obras, como o inglês, francês ou italiano. Mas o progresso dá-se pouco a pouco e só corrobora o que disse antes, de que o trabalho nunca está concluído", avaliou.
Questionado sobre a não ratificação do acordo ortográfico por todos os países da CPLP, Ronaldo Costa Filho afirmou que o tratado é "um esforço de manter uma harmonia da língua nos seus diferentes países, mas a realidade também se impõe".
"Acho que a língua se desenvolve e cresce por pressão do uso das populações. Eu sei, por exemplo, que mesmo a difusão de telenovelas brasileiras tem influenciado a maneira como se fala português em Portugal. Tem um impacto. Então, a língua é muitas vezes mais dinâmica do que o acordo ortográfico", acrescentou.
Sobre o futuro da língua portuguesa, o embaixador não tem "a menor duvida de que é positivo".
"A língua portuguesa é das mais faladas no mundo (...) e ela tem uma riqueza e uma vitalidade que a transforma num instrumento de aproximação e de conhecimento dos povos que é inegável. Temos de continuar a dar força e apoiar, para que seja sempre assim", concluiu.
A XIII Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da CPLP realiza-se, esta sexta-feira e no sábado, em Luanda, Angola, país que assume a presidência rotativa da organização.
Integram a CPLP Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. (RM /NMinuto)
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