A extracção de águas subterrâneas está a afectar a inclinação da Terra.
Segundo um estudo agora publicado, a exploração de aquíferos subterrâneos tem efeitos visíveis, ainda, na subida do nível do mar.
Um estudo publicado na revista "Letras de Investigação Geofísica" concluiu que a extracção persistente e continuada de água do subsolo mudou o eixo da terra, inclinando o Planeta azul cerca de 4,3 centímetros por ano durante a última década.
A redistribuição da água do subsolo da terra deslocou o eixo rotacional da terra em quase 78 centímetros ao longo das duas últimas duas décadas, concluiu o estudo.
"O polo de rotação da terra muda muito, actualmente", disse Ki-Weon Seo, professor do departamento de Ciência Educacional da Terra, da Universidade Nacional de Seul, na Coreia do Sul. "O estudo mostra que, a par das causas relacionadas com o clima, a redistribuição da água subterrânea tem o maior impacto na deslocação do polo terrestre", acrescentou o líder da equipa de investigação, em comunicado, citado pelo canal de notícias norte-americano CNN.
As alterações no eixo da terra são medidas indirectamente por um radiotelescópio através da observação de objectos imóveis no espaço - os quasars - que servem de ponto de referência.
Para estes estudos, os cientistas usaram dados de 2010 sobre a extracção de água e incorporaram-nos num modelo de computador, acompanhando a investigação com dados observacionais da perda de gelo à superfície e do aumento do nível do mar, para estimar as rotações polares.
Os investigadores avaliaram as variações "usando a mudança da massa da água subterrânea obtida pelo modelo" computacional para calcular qual o impacto da exploração dos aquíferos do subsolo no eixo de rotação da Terra.
"É uma contribuição muito interessante e uma documentação importante", comentou Surendra Adhikari, investigador no Laboratório de Propulsão a Jato da Agência Espacial Norte-Americana (NASA). "Quantificaram o papel da extracção de água subterrânea na rotação polar, o que é muito significativo", acrescentou aquele investigador numa publicação.
Os cientistas estimam que o subsolo da terra possa conter cerca de mil vezes mais água que todos os rios e lagos do Mundo juntos. A extracção de água de forma continuada e intensiva estará a mexer com o eixo do Planeta azul, que roda sobre si próprio a 1609 quilómetros por hora, assente num eixo de norte-para sul, como se estivesse espetado numa vara de um polo ao outro.
Entre 1993 e 2020, o período examinado no estudo, os seres humanos extraíram mais de 2150 giga toneladas de água subterrânea, maioritariamente na América do Norte e no noroeste da Índia, segundo estimativas publicadas em 2010. Se toda esta água fosse depositada nos oceanos, o nível do mar subiria seis milímetros.
Em 2016, investigadores descobriram que a alteração no eixo de rotação da terra, entre 2003 e 2015, podia estar ligada a mudanças na massa dos glaciares, nas placas de gelo e à água subterrânea. "Afectamos os sistemas da Terra de várias formas. As pessoas têm de ter consciência disso", alertou Seo.
No futuro, os cientistas ponderam recuar mais na análise e tentar perceber como a sede pela extracção de águas subterrâneas afectou o planeta nos últimos 100 anos. "Os dados estão disponíveis desde o século XIX", disse aquele investigador sul-coreano. (RM)
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