A taxa de mortalidade no Sudão aumentou 20 vezes desde o início do conflito armado no país em meados de Abril do ano passado, revela um inquérito da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) divulgado hoje.
"Ataxa de mortalidade aumentou 20 vezes a partir de Abril, atingindo 2,25 mortes por 10.000 pessoas por dia, com um pico em Junho", revela o inquérito, especificando que 83% dos mortos foram homens.
"A violência, especialmente com armas de fogo, foi a causa da morte em 82% dos casos", acrescenta o estudo, esclarecendo que a maioria das mortes ocorreu na região de El Geneina, capital do estado do Darfur Ocidental, e outra parte significativa, correspondente a "um quarto" do total das mortes, ocorreu "durante a fuga para o Chade".
"Cerca de um em cada 20 homens com idades compreendidas entre os 15 e os 44 anos foi dado como desaparecido durante este período", revela ainda a MSF.
O estudo foi realizado em agosto e Setembro últimos entre sudaneses abrigados em três campos de refugiados no Chade - Toumtouma, Arkoum e Ourang, que albergavam, respectivamente, 6.000, 44.000 e 25.000 pessoas -,em que lhes foi perguntado quem nas respectivas famílias morreu ao longo de 2023 e como.
"Os relatos dos refugiados que fugiram do Darfur Ocidental nos últimos seis meses pintam o quadro de uma espiral de violência insuportável, com pilhagens, incêndios de casas, espancamentos, violência sexual e massacres", afirma organização não-governamental (ONG).
"Com raízes nas rivalidades políticas, económicas e fundiárias entre as comunidades presentes no território, a dimensão étnica da violência assumiu contornos particularmente extremos na capital do estado, El Geneina, que se encontra agora praticamente vazia da comunidade Masalit, que aí vivia", acrescenta a MSF.
Uma amostra representativa de 3.093 pessoas (chefes de família) foi inquirida sobre o número e a causa das mortes nos respectivos agregados familiares em 2023, antes e depois do início do conflito, permitindo determinar uma taxa de mortalidade bruta e compará-la entre dois períodos. Uma taxa de mortalidade igual ou superior a uma morte por 10.000 pessoas por dia caracteriza uma emergência que exige resposta imediata.
A guerra no Sudão provocou uma crise humanitária grave no leste do Chade, onde quase meio milhão de pessoas encontraram refúgio ao lado de comunidades locais já vulneráveis, e milhares de outros refugiados sudaneses que se encontram no país há duas décadas.
O Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA) deu hoje conta de que outro meio milhão de pessoas corresponde ao total de deslocados internos na região sudanesa de Al Jazira, a sul da capital do país, Cartum, devido aos combates entre o exército e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAR) desde Abril último.
Destes deslocados, 275.000, ou seja, 46% do total, estão a fugir pela segunda vez desde o início do conflito em busca de refúgio, segundo um comunicado do OCHA, que cita outras agências das Nações Unidas.
Estima-se que 5,9 milhões de pessoas vivam actualmente naquele estado, 700.000 das quais em Wad Madani, capital de Al Jazira, que acolhe actualmente 86.400 deslocados, segundo o relatório.
O OCHA alertou ainda para o facto de mais de 270.000 pessoas necessitarem de assistência humanitária na região de Al Jazira e 179.000 estarem em situação de insegurança alimentar na cidade, em resultado do corte das estradas para as aldeias do leste do estado.
A situação provocou uma escassez de géneros alimentícios de base e, segundo o OCHA, os preços triplicaram, enquanto os combustíveis quadruplicaram.
As organizações humanitárias socorreram até agora, desde o início dos confrontos em meados de Abril, com alimentos, cuidados de saúde e outras intervenções um total estimado de 730.000 pessoas em Al Jazira, segundo o OCHA. (RM-NM)
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