Vinte e duas pessoas foram mortas no Quénia durante as manifestações antigovernamentais de terça-feira, disse hoje à AFP a presidente do organismo oficial dos direitos humanos, a Comissão Nacional dos Direitos Humanos do Quénia (KNHRC).
"Acompanhámos as manifestações e registámos 22 mortes", disse Roseline Odede, afirmando que a sua organização, que é pública mas independente do Governo, tinha "aberto um inquérito". Um relatório anterior, elaborado por uma associação de médicos, apontava para pelo menos 13 mortos.
Durante a manhã de hoje, uma das principais figuras do movimento de protesto antigovernamental do Quénia, a jornalista e ativista Hanifa Adan, apelou a uma nova manifestação pacífica em memória das vítimas dos protestos de terça-feira.
"Todo o poder soberano pertence ao povo do Quénia. Não nos podem matar a todos. Amanhã voltamos a marchar pacificamente, vestidos de branco, por todos os nossos mortos. Não serão esquecidos", escreveu hoje de manhã na rede social X Hanifa Adan.
Na terça-feira à noite, após um dia de caos, violência e pilhagens na capital Nairobi, o Presidente William Ruto mostrou-se firme e garantiu que "a violência e a anarquia" seriam firmemente reprimidas. Antes de terça-feira, os protestos já tinham provocado a morte de duas pessoas em Nairobi, bem como dezenas de feridos e centenas de detenções.
As autoridades não forneceram dados sobre o número de vítimas durante este terceiro dia de manifestações em oito dias contra o projeto de orçamento para 2024-25, que inclui aumentos de impostos.
"Nunca vimos nada como isto antes", afirmou Kigondu.
As manifestações contra os novos impostos, lideradas principalmente por jovens, começaram na semana passada num ambiente calmo, com milhares de manifestantes a marcharem em Nairobi e noutras cidades do país. A tensão aumentou fortemente na tarde de terça-feira no centro de Nairobi.
De acordo com ONG, incluindo a secção queniana da Amnistia Internacional, a polícia disparou munições reais numa tentativa de conter a multidão, que forçou a entrada no edifício do parlamento. Os edifícios foram saqueados e parcialmente incendiados.
Em Nairobi e em várias outras cidades, as multidões também se envolveram em pilhagens.
O cenário de caos de terça-feira alarmou os Estados Unidos e mais de uma dezena de países europeus, bem como a ONU e a União Africana, que manifestaram "grande preocupação" e apelaram à calma.
A principal coligação da oposição, Azimio, acusou o Governo de "desencadear a força bruta" contra os manifestantes e instou a polícia a "parar de disparar contra crianças inocentes, pacíficas e desarmadas".
O grupo de ONG liderado pela Amnistia do Quénia também informou na terça-feira que 21 pessoas tinham sido raptadas por "agentes uniformizados ou à paisana" nas últimas 24 horas. A polícia não respondeu aos pedidos da AFP sobre o assunto.
O movimento de protesto anti-impostos, apelidado de "Ocupar o Parlamento" ("Occupy Parliament"), foi lançado nas redes sociais pouco depois da apresentação ao parlamento, em 13 de junho, do projeto de orçamento para 2024-2025, que inclui um IVA de 16% sobre o pão e um imposto anual de 2,5% sobre os veículos particulares.
Após o início dos protestos, o Governo, que considerava necessários novos impostos devido ao pesado endividamento do país, anunciou em 18 de junho que retirava a maior parte das medidas previstas para o efeito.
O Quénia, uma das economias de crescimento mais rápido da África Oriental, registou uma inflação homóloga de 5,1% em maio, com os preços dos alimentos e dos combustíveis a aumentarem 6,2% e 7,8%, respetivamente, segundo o Banco Central.
Um terço dos cerca de 51,5 milhões de habitantes do país vive abaixo do limiar de pobreza. O projeto de orçamento está atualmente a ser debatido no parlamento, com vista a uma votação final antes de 30 de junho. (RM-NM)
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