A escritora moçambicana Paulina Chiziane submeteu uma queixa-crime contra um pastor da Divina Esperança, acusando os seguranças daquela congregação de a terem agredido e à sua equipa quando tentavam gravar um vídeo nas proximidades daquela igreja.
"Metemos a queixa e, no dia 29 de Julho, tivemos audição com o pastor da igreja Divina Esperança e, por fim, solicitei que se fizesse um auto para levar o assunto ao tribunal, porque é grave o que aconteceu", disse à Lusa a escritora.
A escritora queixa-se de ter sido agredida no dia 28 de Julho, na província moçambicana de Maputo, quando, com outros três membros da sua equipa, registavam imagens para um videoclipe nas imediações da igreja Divina Esperança.
Segundo Paulina Chiziane, a agressão foi protagonizada pelos seguranças da igreja, sob orientações do seu pastor, tendo algumas das pessoas da sua equipa ficado gravemente feridas.
"Estou a processar um pastor, aquele que ordenou a agressão contra mim e contra os meninos. Estou, sim, a processar o pastor e o chefe da segurança dele. Eles [a igreja] dizem que podem ajudar a pagar as despesas de saúde, mas um dos nossos membros foi pisado com botas e não consegue respirar bem, eu não sei se ele tem fracturas ou não, mas ele não está bem", declarou a escritora, acrescentando que outro membro da equipa também teve ferimentos que o deixaram com um problema na vista.
Além das agressões, Paulina Chiziane afirmou que foi acusada de "bruxaria", sob alegações de que, no veículo em que se faziam transportar, levavam consigo a Timbila, um instrumento musical tradicional e que foi classificado como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco em 2008.
"Eles pensaram que estivéssemos a fazer orações contra a igreja deles e vieram fazer revista aos nossos carros sem menor respeito e disseram para ir à esquadra porque violámos as normas da igreja, sendo que estávamos num lugar público, que era a rua", acrescentou a escritora.
A Lusa tentou, sem sucesso, contactar a igreja Divina Esperança.
A Polícia confirmou à Lusa ter recebido a queixa e assegurou que o processo foi remetido ao Ministério Público.
Paulina Chiziane, vencedora do Prémio Camões 2021, nasceu em Manjacaze, em 1955, e é autora de diversas obras, tendo publicado o seu primeiro romance, "Balada de Amor ao Vento", em 1990, considerado o primeiro romance publicado de uma mulher moçambicana.
A escritora tem publicamente criticado a proliferação de "seitas religiosas" em África, alertando para as consequências do fundamentalismo, sobretudo para as identidades e culturas do continente.
"Em cada esquina temos uma igreja. O que diz a Igreja? Cada um com uma ideologia mais estranha do que a outra. Acham isso normal?", questionava a escritora, em Fevereiro, durante uma conferência que debateu a "Nação e a Moçambicanidade" em Maputo. (RM)
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