O Presidente e o primeiro-ministro de transição do Mali demitiram-se, após terem sido presos pelos militares na segunda-feira, medida considerada como um segundo golpe de Estado no país em nove meses, disseram fonte nacionais e internacionais.
O Presidente, Bah Ndaw, e o seu primeiro-ministro, Moctar Ouane, "demitiram-se perante o árbitro", que é a missão de mediação internacional atualmente no Mali, afirmou Baba Cisse, conselheiro especial do coronel Assimi Goita.
Agora, "estão em curso negociações para a sua libertação e para a formação de um novo Governo", acrescentou.
Entretanto, um membro da delegação internacional confirmou, sob condição de anonimato, à agência France-Presse, que o Presidente de transição se tinha demitido.
A delegação internacional deslocou-se hoje de manhã ao campo militar de Kati, a cerca de 15 quilómetros da capital do Mali, Bamako, para se encontrar com os dois líderes ali detidos.
O vice-presidente de transição no Mali, o coronel Assimi Goita, anunciou na segunda-feira que demitiu o seu superior, o Presidente Bah Ndaw, bem como o primeiro-ministro, Moctar Ouané, assegurando que "o processo de transição continua o seu curso" e que haverá eleições em 2022.
Numa declaração lida na televisão nacional, Goita, que liderou o golpe militar de agosto de 2020, tentou dar uma ideia de normalidade, convidando o povo maliano a "continuar livremente com as suas ocupações".
O coronel insistiu no "compromisso infalível" das forças armadas do Mali em defender a segurança do país, mas não indicou pormenores sobre o paradeiro do Presidente e primeiro-ministro, detidos na segunda-feira.
Após várias horas de expectativa desde a detenção de Ndaw e Ouané, o comunicado do vice-presidente Goita explicou então que as razões desta ação resultam de uma "crise de muitos meses a nível nacional", em referência às greves e várias manifestações convocadas no país por atores sociais e políticos.
A detenção de Ndaw e Ouané ocorreu horas após o anúncio da composição de um novo Governo formado pelo primeiro-ministro, o que, segundo várias fontes, causou desconforto entre os líderes do golpe militar pela exclusão de dois comandantes militares.
Assimi Goita indicou também que "o processo de transição seguirá o seu curso normal e que as eleições planeadas se realizarão durante 2022".
O coronel Goita, chefe dos militares que derrubaram o presidente eleito Ibrahim Boubacar Keita em 18 de agosto de 2020, culpou o Presidente Bah Ndaw e o primeiro-ministro Moctar Ouane pela formação de um novo Governo sem o consultar previamente, apesar de ser o responsável pela Defesa e Segurança, áreas cruciais no país.
"Tal movimento demonstra um claro desejo por parte do Presidente e do primeiro-ministro transitórios de violar a carta transitória (...), com uma clara intenção de sabotar a transição", disse.
A carta, redigida em grande parte pelos coronéis, é um texto de referência da transição que supostamente irá trazer os civis de volta ao poder.
O coronel Goita disse que, neste contexto, foi "obrigado a agir" e a destituir das "suas prerrogativas" o Presidente, o primeiro-ministro e todos os envolvidos na situação.
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) vai reunir-se hoje, de forma virtual, para discutir a situação no Mali, anunciou a organização na terça-feira.
A reunião virtual realiza-se às 15:00, hora em Nova Iorque, na sede da ONU (20:00 em Lisboa).
A sessão de emergência foi solicitada à presidência chinesa do Conselho de Segurança pela França, Níger, Tunísia, Quénia e São Vicente e Granadinas, Estados-membros do órgão da ONU. (RM-NM)
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