Fabião Mucandzi, 22 anos, carrega ao ombro uma ripa de madeira com dezenas de furos onde está encaixado um arco-íris: em cada furo está preso um frasquinho colorido de verniz para as unhas que aplica nas ruas de Maputo.
"Faço isto para não ter de roubar ninguém. A partir daqui consigo comprar crédito [saldo do telemóvel] e Internet para sustentar os meus estudos e fazer outras coisas", conta à Lusa.
Sentado na paragem de transportes coletivos, enfrenta a azáfama da Praça dos Combatentes em busca de clientes, há quase quatro anos, na ambição de conseguir financiar os seus estudos.
"Com o coronavírus, nada está a andar. Está difícil pagar as mensalidades da escola. Está tudo parado. Por vezes tenho de fazer empréstimos para pagar a mensalidade", lamentou.
Apesar do futuro incerto, para Fabião, mais do que um negócio para escapar ao desemprego, cuidar das unhas é uma "arte".
"Eu considero o meu trabalho uma arte. A arte que eu tenho nas mãos e que estou a partilhar com outras pessoas".
Foi a mesma "arte" que conquistou Bibi de Fátima, uma entre várias mulheres moçambicanas que preferem recorrer à manicure de rua em Maputo.
"Eu faço as unhas aqui porque gosto do trabalho deles, são acessíveis e são simpáticos. Por isso eu opto por eles", diz, enquanto espera pelo autocarro.
De pé esticado, observa a arte de Fabião, dedo a dedo, imune à agitação em redor, na Praça dos Combatentes.
Belgito Carlitos, 24 anos, fugiu da fome no interior de Inhambane em 2014 e hoje, em Maputo, ganha a vida como manicure de rua.
O sonho de uma vida melhor na capital começou na infância sofrida nos subúrbios de Inhambane, a 478 quilómetros da capital, e não tardou até Carlitos descobrir uma vocação: cuidar das unhas dos pés e das mãos dos seus clientes - apesar do estigma e preconceito que os homens sofrem neste tipo de profissão, principalmente no meio rural.
"Comecei observando o que os outros faziam. Primeiro vendi brincos [nas ruas de Maputo] e depois comecei a pintar unhas. Hoje, já sou profissional", diz de peito cheio à Lusa, enquanto trata de uma das suas clientes.
Simples, rápido e barato, com os preços a variarem entre cinco meticais e 250 meticais, o tratamento de Belgito é quase sempre banhado de cores.
Após quase oito anos, diz que é famoso no seu bairro, até já conseguiu instalar um pequeno salão no interior de Laulane, cidade de Maputo.
Mas com o impacto das restrições impostas pela pandemia de covid-19, os clientes estão a desaparecer e as contas começam a apertar.
"Antes do coronavírus, conseguíamos tratar, por dia, 10 a 15 pessoas, mas agora não estamos a conseguir muito dinheiro", diz, acrescentando, no entanto, que "ainda dá para pagar a renda" de casa que divide com os seus colegas. (RM)
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