Soldados etíopes e eritreus espancaram e prenderam cerca de 200 civis deslocados numa rusga nocturna em campos na região de Tigray, no norte da Etiópia, na segunda-feira, denunciou esta terça-feira a Amnistia Internacional e testemunhas.
A operação, a maior documentada contra os campos que se formaram perto da cidade de Shire, acontece quase dois meses depois do primeiro-ministro Abiy Ahmed ter anunciado a retirada das tropas eritreias de Tigray, onde o conflito com as tropas federais se arrasta há mais de seis meses.
Os soldados realizaram uma rusga juntos na segunda-feira à noite e prenderam mais de 100 civis no campo de Tsehaye e pelo menos 76 civis no campo de Adiwonfito, espancando-os e apreendendo os seus telefones antes de os carregarem em camiões, disse Fisseha Tekle, investigador da organização Amnistia Internacional.
As vítimas eram na sua maioria homens, incluindo adolescentes e pelo menos uma pessoa com mais de 70 anos, e foram levados para uma área chamada Guna, nos arredores de Shire, acrescentou.
A população deslocada no Shire são principalmente famílias de agricultores que foram expulsas do Tigray ocidental, onde segundo o secretário de Estado norte-americano Antony Blinken, ocorreu uma "limpeza étnica".
"Não há hipótese de se tratar de forças especiais, polícia especial, ou milícias do Tigray", disse Fisseha Tekle, confirmando que, de acordo com as suas fontes, as vítimas são agricultores.
"Esta é uma espécie de prisão em massa sem qualquer fundamento", acrescentou.
De acordo com uma testemunha, que escapou à rusga em Adiwonfito, já tinham sido efetuadas detenções individuais nos campos, mas as detenções em massa são uma novidade.
Aqueles que ficaram "têm medo e fugiram dos campos", acrescentou, citada pela agência France-Press sob condição de anonimato.
Nem o governo do Tigray, nem os militares responderam aos pedidos de comentários da agência noticiosa.
O primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed lançou uma operação militar em 04 de Novembro contra as autoridades da Frente de Libertação do Povo do Tigray (TPLF), em conflito com o governo federal.
A luta continua na região, onde a situação humanitária crítica está a alarmar a comunidade internacional.
No domingo, Antony Blinken anunciou restrições de vistos para funcionários etíopes e eritreus.
As restrições foram condenadas pela Etiópia e pela Eritreia, que disse ter ficado "horrorizada" com a medida.
"Vamos ver se os EUA os salvarão", terão gritado os soldados às suas vítimas, durante a rusga de segunda-feira à noite, segundo numerosas testemunhas entrevistadas pelo investigador da Amnistia Internacional. (RM-NM)
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