A Amnistia Internacional (AI) considerou hoje a pausa do Governo dos Estados Unidos no envio de armas para Israel "é um primeiro passo positivo", mas "fica aquém" do exigido face à perda de vidas em Gaza.
Num comunicado, a organização de defesa e promoção dos direitos humanos, com sede em Londres, lembra que esse passo fica também aquém da possibilidade de "mais atrocidades" por parte do exército israelita no âmbito da ofensiva terrestre lançada em Rafah (sul da Faixa de Gaza e junto à fronteira com o Egito).
Washington congelou as entregas de bombas pesadas e, na terça-feira, no seu aviso mais forte até à data, o Presidente norte-americano, Joe Biden, levantou a possibilidade de suspender todas as entregas se as forças israelitas cumprirem a sua ameaça e lançarem uma operação em grande escala em Rafah.
"Exortamos a administração Biden a suspender imediatamente todas as transferências de armas para o governo israelita", disse Amanda Klasing, da AI Estados Unidos, que apelou a Washington para que ponha fim à "cumplicidade nas graves violações do direito internacional".
O governo de Gaza estima que quase 35.000 pessoas foram mortas desde o início da ofensiva de outubro na Faixa de Gaza.
A Amnistia Internacional também instou o governo dos Estados Unidos a apresentar "urgentemente" o Memorando de Segurança Nacional sobre Salvaguardas e Responsabilidade por Artigos de Defesa e Serviços de Defesa Transferidos (NSM-20), um relatório que examina o destino e a utilização de armas entregues a outros países.
Klasing considera que a apresentação deste memorando ao Congresso é "especialmente urgente", tendo em conta os potenciais abusos em Gaza.
"A tática de olhar para o outro lado não faz com que as violações dos direitos do governo israelita desapareçam", afirmou.
Quarta-feira, o governo dos EUA confirmou que reteve o envio de um carregamento de armas para Israel, uma das medidas de Biden para influenciar o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.
"Neste momento, estamos a rever alguns envios de assistência de segurança a curto prazo, no contexto dos acontecimentos que se desenrolam em Rafah", afirmou o chefe do Pentágono, o general Lloyd Austin, durante uma comparência perante um subcomité do Senado.
"Preferimos que não ocorram combates importantes em Rafah, mas o nosso foco principal é garantir a proteção de civis", acrescentou, reiterando a posição que os EUA defendem desde há semanas.
O porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, foi mais além e anunciou que os EUA estão a estudar reter mais envios de armas para Israel.
Segundo a CNN, está em causa um pacote com 3.500 bombas, das quais 1.800 com 907 quilos e 1.700 bombas com 226 quilos.
Os Estados Unidos estariam sobretudo preocupados com o uso que Israel faça das bombas mais pesadas em zonas densamente habitadas.
No entanto, a decisão norte-americana não afetou as operações militares israelitas na Faixa de Gaza, onde dezenas de palestinianos foram mortos durante a madrugada de hoje em Rafah e no norte do enclave devido.
Em Rafah, as forças militares israelitas tomaram, numa ofensiva lançada a 07 de maio, as zonas da passagem para o Egito e do porto de Kerem Shalom, para Israel, bem como de outros 31 quilómetros quadrados de onde a população foi mandada retirar-se um dia antes.
Os aviões israelitas voltaram a atacar as zonas em torno do posto fronteiriço de Rafah, que permanece encerrado, disparando projéteis contra os bairros orientais de al-Shuweika e al-Jeneina, enquanto a força naval utilizou também metralhadoras contra as zonas ocidentais da cidade de Rafah, informou a agência palestiniana Wafa.
No bairro de Zeitun, no norte de Gaza, pelo menos 10 casas foram bombardeadas perto da mesquita Hasan Al Banna e da Universidade de Gaza, deslocando milhares de pessoas que se abrigavam nas escolas.
"Dezenas de pessoas foram mortas na sequência dos bombardeamentos dos aviões de guerra ocupantes", indiciou a Wafa.
O número total de mortos desde o início da guerra em Gaza, a 07 de outubro de 2023, ascende a 34.844, segundo a contagem das autoridades palestinianas, enquanto pelo menos 78.404 pessoas ficaram feridas.
Além disso, milhares de corpos estão ainda enterrados sob os escombros e não podem ser alcançados pelas equipas de salvamento.
Israel declarou guerra ao movimento Hamas após um ataque surpresa em território israelita que fez cerca de 1.200 mortos e mais de 200 sequestrados. (RM-NM)
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