O Presidente norte-americano, Joe Biden, criticou esta segunda-feira duramente a oposição republicana, acusando-a de jogar um jogo "perigoso" no Congresso quando os Estados Unidos correm o risco de entrar em incumprimento de pagamento da dívida.
"Não se atravessem no caminho", declarou Biden num discurso proferido na Casa Branca, condenando "a irresponsabilidade" dos republicanos, numa altura em que os democratas se preparam para votar um diploma aumentando a capacidade de endividamento do país, antes da data-limite de 18 de outubro.
O Partido Democrata dispõe de uma maioria demasiado estreita para poder, só com os seus votos, "aumentar o limite da dívida", uma manobra legislativa que os congressistas republicanos estão decididos a impedir.
"Será que posso garantir [que os Estados Unidos não vão atingir o teto da dívida este mês]? Não, não posso garanti-lo. Isso depende de Mitch McConnell (o líder republicano no Senado)", indicou, reconhecendo que, sem a cooperação dos republicanos, não conseguirá impedir que o país incorra na suspensão de pagamentos este mês.
"Não posso crer que esse será o resultado, porque as consequências seriam demasiado graves", comentou o Presidente norte-americano, a propósito do iminente incumprimento no pagamento da dívida, que nunca ocorreu na história dos Estados Unidos.
"Não cumprir as nossas obrigações de dívida seria uma ferida autoinfligida que arrastaria a nossa economia para um precipício", advertiu Biden.
Os legisladores já aumentaram ou suspenderam 78 vezes o "limite da dívida" desde 1960.
Trata-se do limite máximo legal autorizado pelo Congresso em matéria de empréstimos. Atualmente fixado um pouco acima dos 28.000 biliões de dólares (cerca de 24.000 biliões de euros), o Departamento do Tesouro estima que será atingido a 18 de outubro.
O Governo teria então, de um dia para o outro, de parar de viver a crédito e cortar na despesa, o que lançaria na recessão um país que há décadas funciona com défices, como um grande número das economias avançadas.
Um incumprimento de pagamento da dívida dos Estados Unidos teria também consequências imprevisíveis no sistema financeiro e na economia internacionais, dominados pelo dólar e alimentados pelos títulos do Tesouro norte-americano.
No entanto, os líderes do Partido Republicano, tradicionalmente favorável à disciplina fiscal, opõem-se a suspender o teto da dívida, e os democratas precisam de pelo menos dez votos republicanos no Senado para poder aprovar a medida.
"Estão a ameaçar usar o seu poder para impedir que façamos o nosso trabalho, que é salvar a economia de um acontecimento catastrófico. Penso que isso é francamente hipócrita, perigoso e lamentável", sentenciou Biden.
"Têm que deixar de jogar à roleta russa com a economia norte-americana", acrescentou.
O chefe de Estado alertou que uma suspensão dos pagamentos "ameaçaria o estatuto do dólar como a divisa de reserva da qual o mundo depende" e que faria baixar a notação de solvência dos Estados Unidos, além de aumentar "as taxas de juro das hipotecas, créditos automóveis ou cartões de crédito".
Explicou que, dez minutos antes do seu discurso na Casa Branca, lera uma carta de McConnell em que este lhe pedia que tentasse elevar o teto da dívida só com os votos democratas, através de um mecanismo legislativo chamado "reconciliação", que permite aprovar de forma excecional projetos com uma maioria simples (mais votos a favor do que contra).
Embora não o tenha descartado completamente, Biden mostrou-se cético quanto a essa possibilidade, porque tal exigiria programar "centenas de votações" no Senado que poderiam "não ter nada que ver com o limite da dívida".
Assegurou que conversará com McConnell e continuará a negociar para cumprir o objetivo que se propôs atingir: que o Congresso possa aprovar ainda esta semana uma medida que suspenda o teto da dívida.
O Governo só pode emitir dívida até ao limite estabelecido pelo Congresso, que tem o poder de elevar esse teto consoante considere conveniente.
Os Estados Unidos nunca tiveram que recorrer à suspensão de pagamentos da sua dívida soberana, mas estiveram perto em 2011, com Barack Obama na Casa Branca.
Na altura, isso desencadeou um enorme caos nos mercados financeiros, o que levou a que a Standard & Poor's baixasse a notação de solvência do país. (RM-NM)
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