O Presidente norte-americano, Joe Biden, recebe hoje na Casa Branca o seu homólogo sul-africano, Cyril Ramaphosa, cujas posições sobre a guerra na Ucrânia estão longe das suas, pelo que o tema assume importância capital na agenda do encontro.
O Presidente norte-americano pretende discutir com o seu convidado "vários tópicos, incluindo a crise climática, como desenvolver o comércio e o investimento (…), e outros desafios globais urgentes", anunciou na quinta-feira a porta-voz de Biden, Karine Jean-Pierre, sem fazer qualquer alusão expressa ao tema do alinhamento dos estados africanos em relação à guerra na Ucrânia.
Mas desde o início da invasão russa da Ucrânia em 24 de Fevereiro, a áfrica do Sul, como a maioria dos Estados africanos, tomou uma posição neutra, recusando juntar-se aos apelos ocidentais para condenar Moscovo e Washington tem feito tudo para inverter esta tendência, reveladora da influência da Rússia, mas também da China, no continente.
Um alto funcionário da Casa Branca disse esta quinta-feira que estava "ansioso por ouvir as opiniões da África do Sul sobre como se chegar a uma conclusão justa do conflito" na Ucrânia, de acordo com a agência France-Presse, que não identificou a fonte.
Os Estados Unidos intensificaram os seus esforços nos últimos meses para reforçar os seus laços com África, e Joe Biden, que ainda não visitou o continente, está a organizar uma grande cimeira com líderes africanos em Washington em Dezembro.
A África do Sul, um peso económico pesado, tem um lugar de destaque nesta ofensiva de charme, mas já deixou claro que os desafios do momento não podem apagar a solidariedade e as lições do passado.
"As perspectivas de hoje têm as suas razões, e não creio que alguém deva fingir que a história não existiu", afirmou na quinta-feira a ministra dos Negócios Estrangeiros sul-africana, Naledi Pandor, em Washington, onde está a acompanhar Ramaphosa.
A África do Sul não esqueceu o apoio da União Soviética à resistência contra o regime do 'apartheid', que as potências ocidentais permitiam que florescesse.
"O que eu não gosto é que me digam o que fazer. Não me deixarei pressionar", já tinha advertido a chefe da diplomacia sul-africana durante a visita do seu homólogo norte-americano, Antony Blinken, há pouco mais de um mês à África do Sul, quando questionada sobre a posição de Pretória em relação à Rússia.
É neste contexto que Biden recebe Ramaphosa, pelo que a Casa Branca está a olhar para o encontro com a maior prudência diplomática: "É particularmente importante (…) ter conversas honestas sobre o papel das grandes potências na região", acrescentou à AFP o alto funcionário citado acima, que recusou ser identificado.
O papel do Grupo Wagner, a empresa paramilitar composta por mercenários, com ligações nunca formalmente estabelecidas ao Kremlin, na expansão da influência global da Rússia tem vindo a ser muito escrutinado, mas cada vez mais desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de Fevereiro. O tema deverá surgir à mesa das conversações entre Biden e Ramaphosa, de acordo com Peter Fabricius, um consultor do Institute for Security Studies (ISS) da África do Sul.
Em Abril, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou um projecto de lei contra as actividades malignas da Rússia em África, em grande parte inspirado pela crescente presença em África do grupo Wagner. A ser ratificada e a entrar em vigor, a lei autorizará a imposição de sanções por parte dos Estados Unidos contra entidades russas como o Grupo Wagner, mas também contra governos africanos e outros organismos que com eles assinem negócios.
O Governo da África do Sul, sublinhou Fabricius, tem exercido forte pressão contra este projecto de lei, que, na opinião de Pretória, se destina a punir os estados africanos por não apoiarem as resoluções da Assembleia Geral das Nações Unidas que condenam a invasão russa da Ucrânia.
"Os diplomatas sul-africanos afirmam em privado que estão a ter êxito e que o projecto de lei não entrará em vigor. Espera-se que o Presidente Cyril Ramaphosa levante hoje a questão na reunião que manterá com o Presidente dos Estados Unidos Joe Biden na Casa Branca", escreve o consultor do ISS. (RM /NMinuto)
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