Cientistas defendem que países ricos deixem combustíveis fósseis até 2040

Publicado: 09/12/2023, 9:15

Dois dos principais climatologistas internacionais defendem, numa carta enviada às Nações Unidas, quando decorre a COP28, que os países desenvolvidos da OCDE devem abandonar todos os combustíveis fósseis até 2040, e o resto do mundo até 2050.

Acarta, à qual a agência France-Presse teve acesso, foi enviada ao secretário-geral das Nações Unidas e à ONU Clima e nela os dois cientistas sublinham que é preciso adoptar um novo calendário, mais apertado do que se pensava anteriormente, se o mundo quiser limitar o aquecimento global a 1,5°C em relação à era pré-industrial, o centro das negociações que decorrem no Dubai até 12 de Dezembro.

O calendário é o resultado dos cálculos de Johan Röckstrom, do Instituto de Investigação do Impacto Climático de Potsdam (PIK), na Alemanha, e do seu homólogo Pierre Friedlingstein, da Universidade de Exeter, no Reino Unido, que enviaram na sexta-feira ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e à ONU Clima.

Os dois climatologistas baseiam as suas conclusões nas estimativas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) sobre o "orçamento de carbono" que falta para manter o limite de 1,5°C, ou seja, a quantidade de gases com efeito de estufa que ainda precisam de ser emitidos para a atmosfera para provocar esse aquecimento.

"Saber se vamos atingir a neutralidade carbónica até 2050 ou se nos vamos contentar apenas com uma redução muito acentuada" dos combustíveis fósseis "não deve estar no centro dos debates" da COP28, advertiu Johan Röckstrom.

No Dubai, "as discussões devem centrar-se em esforços sérios e justos para começar a implementar um plano de saída", acrescentou.

De acordo com a nota, os países da OCDE devem eliminar progressivamente o carvão até 2030, seguindo-se o resto do mundo até 2040. Relativamente ao petróleo e ao gás, a saída deverá ocorrer em 2040 para a OCDE e em 2050 para os restantes países.

Mesmo este calendário é potencialmente insuficiente, dadas algumas estimativas mais pessimistas do orçamento de carbono remanescente, que exigiriam uma eliminação total dos combustíveis fósseis para a OCDE até 2030 e para o resto do mundo até 2040.

No entanto, este calendário é improvável e não está previsto em nenhum dos cenários de transição energética, mesmo nos mais optimistas.

As emissões globais de gases com efeito de estufa, na sua grande maioria geradas pela combustão de combustíveis fósseis, têm de ser reduzidas em cerca de 6% ou 7% por ano, e reduzidas para metade até 2030, em comparação com os valores atuais, dizem os climatologistas, citando o IPCC e a Agência Internacional de Energia. (RM-NM)

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