Kimberly Cheatle, directora dos Serviços Secretos dos Estados Unidos, demitiu-se, depois de admitir que a tentativa de assassínio do ex-presidente, Donald Trump, foi o "fracasso operacional mais significativo" da agência em décadas.
Segundo a imprensa norte-americana, a responsável anunciou, esta terça-feira, que vai deixar o cargo, menos de duas semanas depois do ataque no comício de Trump na Pensilvânia e que deixou o candidato presidencial ferido numa orelha.
"Assumo total responsabilidade pela falha de segurança", escreveu Cheatle numa mensagem de correio electrónico, enviada hoje aos funcionários dos Serviços Secretos, reconhecendo que é com pesar que abandona o cargo.
Cheatle, que desempenhava as funções desde Agosto de 2022, enfrentou pressões crescentes para se demitir, nos últimos dias, devido a falhas de segurança no comício, mas insistiu desde o início que continuaria no cargo. Contudo, acabou por ceder, numa altura em que decorrem investigações sobre a forma como o atirador conseguiu chegar tão perto de Trump.
De notar que, ontem, durante uma audição no Congresso dos Estados Unidos sobre o atentado contra o ex-líder da Casa Branca e candidato republicano nas eleições presidenciais de 05 de Novembro, Kimberly Cheatle assumiu total responsabilidade pelos erros da agência relacionados com o ataque.
"No dia 13 de Julho, falhámos", afirmou Kimberly Cheatle perante a Comissão de Supervisão da Câmara dos Representantes.
Recorde-se que um participante no comício foi morto e dois outros ficaram feridos, depois de Thomas Matthew Crooks, de 20 anos, ter subido ao telhado de um edifício próximo e aberto fogo, antes de ser abatido no local.
Vários congressistas haviam expressado indignação pela forma como o atirador conseguiu chegar tão perto do candidato presidencial republicano, quando deveria ser cuidadosamente vigiado.
No domingo, os jornais Washington Post e New York Times informaram que altos funcionários dos Serviços Secretos norte-americanos negaram repetidamente pedidos de mais recursos e pessoal para a segurança do ex-presidente Donald Trump nos dois anos anteriores à sua tentativa de assassínio.
Os agentes encarregados de proteger o político republicano solicitaram magnetómetros, mais agentes para analisar os participantes dos grandes eventos em que Trump esteve presente, bem como atiradores adicionais e equipamento especializado, disseram quatro fontes ao Washington Post.
Os pedidos foram frequentemente rejeitados por altos funcionários dos Serviços Secretos, que indicaram várias razões, incluindo a falta de recursos.
O New York Times afirmou, por seu lado, que duas fontes, que falaram sob anonimato, confirmaram que a campanha de Trump tinha pedido recursos adicionais durante a maior parte do tempo em que o político republicano esteve fora do cargo na Casa Branca.
Após a publicação desta informação, o porta-voz dos serviços secretos, Anthony Guglielmi, disse ao jornal que novas informações indicam que alguns pedidos podem ter sido negados e que a documentação estava a ser analisada.
"Todos os dias trabalhamos num ambiente dinâmico de ameaças para garantir que os nossos protegidos estão seguros em vários eventos, viagens e outros ambientes difíceis", referiu, acrescentando: "Executámos uma estratégia abrangente e por níveis para equilibrar pessoal, tecnologia e necessidades operacionais especializadas".
Antes do tiroteio, agentes locais viram Crooks a caminhar pelas margens do comício, olhando através das lentes de um telémetro em direção aos telhados atrás do palco onde o ex-presidente se colocaria mais tarde, disseram as autoridades à agência Associated Press.
Mais tarde, testemunhas viram-no a subir a lateral de um edifício industrial a 135 metros do palco. Montou então a sua espingarda e deitou-se no telhado, com um detonador no bolso para rebentar dispositivos explosivos rudimentares escondidos no seu carro estacionado nas proximidades.
O ataque a Trump foi a tentativa mais grave de assassinar um presidente ou candidato presidencial desde que Ronald Reagan foi atingido a tiro em 1981.
Foi também a mais recente de uma série de falhas de segurança por parte da agência que suscitaram investigações e escrutínio público ao longo dos anos.
As autoridades têm procurado pistas sobre o que motivou Crooks, que estava registado como eleitor do Partido Republicano, mas até agora não encontraram nenhuma tendência ideológica que pudesse ajudar a explicar as suas acções.
Os investigadores que revistaram o seu telefone encontraram fotografias de Trump, Biden e outros altos funcionários do Governo, e descobriram também que ele tinha consultado as datas da Convenção Nacional Democrata, bem como as aparições de Trump. (RM-NM)
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