O Conselho de Segurança da ONU aprovou a 8 deste mês a atribuição a António Guterres de um segundo mandato como secretário-geral da organização, entre 2022 e 2026, período em que se espera se empenhe na resolução de conflitos.
No cargo desde Janeiro de 2017, o ex-primeiro-ministro português, de 72 anos, era o único candidato, já que, apesar de ter havido dez candidaturas individuais, nenhuma foi aceite, por não contar com o apoio de qualquer dos 193 países membros da organização.
A decisão foi tomada numa breve sessão, à porta fechada, pelo Conselho de Segurança, órgão essencial no processo de nomeação que foi unânime em recomendar à Assembleia-Geral das Nações Unidas a manutenção do seu líder.
Após um primeiro mandato dedicado a conter as consequências potencialmente dramáticas para as Nações Unidas da política unilateral do então Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, António Guterres deverá agora ter "um plano de batalha para todas as crises de incêndio", considerou um diplomata citado então pela Lusa.
Nesse capítulo, o seu balanço é pobre ao fim de cinco anos, continuando a Síria, o Iémen ou o Mali desesperadamente à espera de uma solução política. Mas foi encontrado um nome para a Macedónia do Norte e houve uma pacificação em curso na Líbia, apesar de a ONU ter sobretudo um papel de acompanhamento de um processo iniciado pelos líbios.
Adepto de uma diplomacia de bastidores, Guterres assegura que está a investir sem olhar a custos para evitar um agravamento do conflito em Chipre, para tentar conter as inclinações belicosas do poder etíope na região de Tigré e para mobilizar o Conselho de Segurança.
Com resultados reduzidos, admitem várias fontes diplomáticas a coberto do anonimato, algumas das quais recordam a passividade da ONU perante o genocídio dos rohingyas em Myanmar (antiga Birmânia), a partir de 2017.
No início de maio, António Guterres sublinhava que "os elementos-chave" da sua acção assentavam na discrição.
"Por vezes, para ser eficaz, é preciso fazê-lo discretamente, para criar canais de comunicação entre as partes -- essenciais para evitar o pior nos confrontos e tentar encontrar soluções", sustentou então.
No âmbito político, sob pressão constante das grandes potências e mesmo das pequenas, o dirigente máximo da ONU não alienou nenhum dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança (Estados Unidos, China, Rússia, França e Reino Unido), assim obtendo a sua recondução.
"Devemos-lhe que a ONU não tenha explodido durante o mandato de Trump, o que poderia ter acontecido. Não é o suficiente, mas esse será o desafio do segundo mandato", previu um diplomata de um desses cinco países.
"Teve dificuldades em tomar decisões para resolver crises, mas os seus antecessores fizeram melhor?", acrescentou outra fonte, também a coberto do anonimato.
Sem grande poder sobre as grandes potências que continuam a travar frequentemente guerras por procuração, Guterres empenhou-se também na luta contra as alterações climáticas.
"Não podemos atingir os nossos objectivos em relação às mudanças climáticas se não fizermos uma abordagem combinada em três áreas, que são os oceanos, a poluição e a biodiversidade, ou a ausência de progressos será flagrante", defendeu recentemente.
Quanto à covid-19, Guterres encontrou muitas vezes as palavras certas para lançar alertas sobre a devastação em curso e por vir da pandemia, mas, também aí, a sua margem de manobra se manteve limitada perante nações que preferiram uma resposta individual à cooperação contra um inimigo comum.
As críticas mais violentas ao ex-Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados (2005-2015) proveem de organizações não-governamentais (ONG), que o acusam de não fazer o suficiente pelos direitos humanos, do que ele se defende, assegurando, em privado, fazer bastante mais nas reuniões de dirigentes do que elas.
Para Kenneth Roth, director da ONG Human Rights Watch, "o primeiro mandato de Guterres traduziu-se no seu silêncio público sobre as violações dos direitos humanos cometidas pela China, a Rússia e os Estados Unidos".
"Ele deveria utilizar os próximos cinco anos para se tornar um ardente defensor dos direitos", como começou por fazer quanto à Bielorrússia e Myanmar (antiga Birmânia) desde o golpe de Estado", acrescentou em comunicado. (RM /NMinuto)
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