O secretário-geral da ONU alerta para as sanções económicas aos talibãs, que estão a debilitar a capacidade económica de responder à grave crise humanitária.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, voltou a alertar para a gravíssima crise humanitária no Afeganistão, afirmando que o país está "preso por um fio".
Desde que os talibãs chegaram ao poder, após a retirada das tropas americanas do país em agosto do ano passado, várias organizações não-governamentais têm alertado para fome extrema que tem dizimado o Afeganistão, assim como as graves falhas nos serviços públicos, na educação e na falta de capacidade financeira do governo talibã (que não é reconhecido pela maioria da diplomacia global).
Numa reunião do Conselho de Segura da ONU, António Guterres fez um apelo aos países que mantêm as sanções económicas. "Precisamos de suspender as regras e condições que restringem não só a economia do Afeganistão, como também as missões humanitárias. Neste momento de extrema necessidade, estas regras têm de ser seriamente revistas", disse o antigo primeiro-ministro português.
O secretário-geral da ONU acrescentou que o mundo precisa de "dar garantias legais às instituições financeiras e aos parceiros comerciais para que possam trabalham com organizações humanitárias, sem medo de quebrarem as sanções".
Segundo a Reuters, cerca de 9,5 mil milhões de dólares da banca afegã continuam congelados por instituições financeiras, que mantêm o acesso a este dinheiro depois da chegada dos talibãs ao poder.
Guterres exigiu que esse dinheiro fosse descongelado para o Afeganistão começar a recuperar, mas a tarefa não se avizinha fácil, já que esta medida pode ser vista como uma forma de reconhecimento do governo talibã como legítimo e legal.
A Reuters aponta ainda que, no início desde ano, as Nações Unidas pediram cerca de 4,4 mil milhões de dólares para combater uma crise humanitária que se tornou numa das piores da história. Esta quarta-feira, Guterres repetiu o pedido, apontando que são necessários mais 3,6 mil milhões de dólares para que a UNICEF e outras organizações não-governamentais possam investir em infra-estruturas básicas de saúde e de educação (estas últimas dedicadas especificamente a raparigas, que viram os seus direitos à educação ser atacados pelos talibãs).
No início do ano cerca de 23 milhões de afegãos estava a passar fome - o que equivale a 55% da população. Os dados do Banco Mundial são ainda mais tenebrosos: cerca de 97% da população afegã está abaixo da linha internacional da pobreza, que se situa em 1,90 dólares por dia.
Em agosto, depois de uma fulminante ofensiva, aproveitando a saída das tropas norte-americanas da região, os talibãs voltaram a assumir o controlo do país e do governo.
Desde então, o regime talibã voltou a impor a Sharia, um sistema jurídico baseado numa interpretação conservadora e rigorosa do Corão. As mulheres foram o grupo mais afectado, deixando de poder estudar e trabalhar sem a permissão de representantes masculinos na família, depois de duas décadas em que a educação no Afeganistão abriu as portas à educação para raparigas. (RM-NM)
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