Um grupo de homens armados invadiu os armazéns do Programa Mundial de Alimentação (PMA) na capital do Darfur do Norte, e saqueou parte do conteúdo após confrontos com as forças de segurança sudanesas, informou esta quartra-feira o governador local.
Nimr Mohamed Abdel Rahman afirmou, em declarações à televisão estatal sudanesa, que um grupo de homens armados em seis veículos todo-o-terreno atacaram os armazéns do PAM em Al-Fasher, na terça-feira, "confrontaram-se com forças que protegiam as instalações", e saquearam uma quantidade não especificada de alimentos.
Mais tarde, dezenas de pessoas acorreram ao local após os confrontos armados. "Os cidadãos conseguiram entrar nos armazéns depois dos confrontos terem parado e os atacantes se retirarem, e saquearam ainda mais comida", acrescentou o governador do estado sudanês, na região oeste do país.
A mesma fonte deu conta de que a segurança foi entretanto restabelecida com a chegada de um reforço de forças policiais e que os armazéns estão protegidos.
As autoridades locais estão a investigar quem está por detrás do ataque, que não deixou vítimas.
Na semana passada, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenou "saques e violência" perto da antiga base logística da organização em Al-Facher, que foi entregue às autoridades locais no início deste mês.
Entretanto, foram detidos no último domingo os responsáveis por outro ataque e pilhagem ocorrido em 24 de dezembro na sede da missão conjunta de manutenção da paz das Nações Unidas e da União Africana no Darfur (Unamid), que terminou o seu mandato oficial há um ano.
Nesse incidente, onde ainda se mantém uma unidade policial com 363 elementos para proteger o pessoal, instalações e bens da ONU, um tiroteio resultou na morte de um cidadão.
A Unamid anunciou em junho último a "conclusão do processo faseado de retirada", após 13 anos de mandato no Darfur, cenário de uma guerra sangrenta entre 2003 e 2008, que deixou mais de 300.000 mortos e 2,5 milhões de deslocados, de acordo com a ONU.
Porém, enquanto os soldados e civis da missão conjunta de paz se retiravam, os confrontos tribais e ataques das milícias foram-se repetindo, resultando até agora em mais várias centenas de mortos, principalmente no Darfur Ocidental.
Cerca de 250 civis foram mortos em confrontos entre pastores e agricultores só nos últimos três meses.
A ONU tem alertado repetidamente para os danos causados por estes confrontos sazonais sobre a terra, água e recursos, que estão a devastar casas, campos e culturas num país onde, em 2022, 30% da população precisará de ajuda humanitária - principalmente os três milhões de desalojados, quase todos eles em Darfur.
O Tribunal Penal Internacional (TPI) exige que o ditador sudanês Omar al-Bashir, deposto em 2019, seja julgado por "genocídio" e crimes contra a humanidade pelo que aconteceu no Darfur, que ainda está longe de encontrar a paz.
As milícias Janjaweed árabes, enviadas pelo Governo de Al-Bashir contra os vários grupos étnicos em Darfur, são também acusadas de "limpeza étnica" e violação.
Desde então, milhares de elementos destas milícias foram integrados nas Forças de Apoio Rápido (RSF) comandadas pelo general Mohammed Hamdane Daglo, agora a segunda maior autoridade na transição do Sudão depois de Abdel Fattah al-Burhan, o general que preside ao Conselho Soberano, que em outubro último recusou passar o poder do país para as mãos do Governo, como previsto, prendendo o primeiro-ministro, Abdalla Hamdok, e vários ministros e altos funcionários da administração.
Vários antigos líderes rebeldes do Darfur também se juntaram à nova liderança militar pós-Al-Bashir, depois de assinarem a paz com Cartum em outubro de 2020.(RM-NM)
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