Mais de 93 milhões de mexicanos são convocados no domingo para eleger 500 deputados federais, 15 dos 31 governadores estaduais, 30 congressos locais e 1.900 municípios, num país fraturado entre duas opções políticas profundamente antagónicas.
Duas grandes forças vão a jogo: a coligação da oposição "Va por México", que engloba o Partido de Ação Nacional (PAN, direita), o Partido Revolucionário Institucional (PRI, centro-direita), e o Partido da Renovação Nacional (PRD, social-democrata); e a coligação "Juntos Fazemos História", liderada pelo Movimento Regeneração Nacional (Morena, esquerda) -- o partido que o atual Presidente Andrés Manuel López Obrador fundou em 2011 após cindir do PRD -- e que inclui o Partido do Trabalho (PT) e o Partido Verde Ecologista do México (PVEM).
Em 2018, nas eleições para o parlamento (Câmara de deputados, 500 lugares) o Morena garantiu maioria absoluta, também confirmada no Senado (128 membros) com a ajuda de formações aliadas.
Perante esta novo cenário político no México a formação heteróclita da direita tentará reverter a relação de forças, mas as suas perspetivas são pouco animadoras num país de regime presidencial e com esta eleição crucial marcada para 2024.
As últimas sondagens atribuem uma larga vantagem ao partido do Presidente, que apesar de um ligeiro recuo (41%), poderá garantir 52% da votação e com o apoio dos seus aliados e obter de novo maioria absoluta no parlamento.
Pelo contrário, as sondagens indicam que os seus principais adversários (PAN e PRI) concentram cada um 15 a 16% das intenções de voto.
Andrés Manuel López Obrador (AMLO, como também é designado pelas suas iniciais), ex-chefe de governo da Cidade do México (2000-2005) foi derrotado nas presidenciais de 2006 e 2012 em escrutínios muito contestados, assinalados por acusações de fraude eleitoral e amplos protestos populares.
No entanto, em 2018 foi eleito para o cargo com a maior votação na história do México (mais de 30 milhões de votos) e a maior percentagem numa eleição presidencial em 36 anos (53%), mas restam-lhe apenas mais três anos para fazer cumprir o seu programa, pelo facto de a lei eleitoral não permitir a renovação do mandato presidencial de seis anos.
Também por esse motivo, AMLO tornou-se no principal protagonista das eleições de domingo, ao manter os seus discursos diários e definir a agenda política, reforçando a sua popularidade que se mantém acima dos 50% em todas as sondagens, apesar da polarização que provoca em certas áreas, e das duras críticas emitidas por diversos 'media'.
Apesar de o seu nome não surgir em nenhum dos boletins de voto, as maiores eleições da história do país pelo número de cargos em disputa têm a "marca" AMLO, quer à direita quer à esquerda.
Para diversos especialistas citados pela agência noticiosa Efe, esta contenda eleitoral, com um rasto de pelo menos 80 candidatos estaduais ou municipais assassinados e inúmeras acusações mútuas, permitirá confirmar a popularidade de AMLO, que conseguiu com "êxito" utilizar "distintas estratégias" para ser um "protagonista" das eleições.
Desde que assumiu o poder em 2018, López Obrador iniciou as suas conferências diárias no Palácio Nacional a partir das 07:00 locais -- as designadas "mañaneras" -- para expor ao longo de duas horas os seus programas de Governo, determinar a agenda do dia, e pronunciar-se sobre os temas mais prementes.
Uma exposição em aparente contradição com o período eleitoral que o impede de pronunciar-se sobre a ação governativa, apoiar candidatos ou emitir opinião sobre as eleições, e que lhe valeu a crítica dos partidos da oposição, que apresentaram queixa junto da Organização dos Estados Americanos (OEA).
No entanto, o Presidente abordou praticamente todos os dias as eleições e determinou a sua agenda -- denunciou, por exemplo, a suposta utilização por alguns candidatos de vales de comida em troca de votos --, e enquanto prosseguiam as investigações dirigidas a políticos e empresários acusados de relações obscuras com o seu antecessor Enrique Peña Nieto eleito pelo PRI, partido que durante décadas dominou a vida política do país.
Em simultâneo, AMLO acusou o crime organizado, em particular os cartéis de narcotráfico, de responsabilidade pela vaga de violência durante a campanha eleitoral, um problema central longe de solucionado, apesar de apresentação de um plano de proteção de candidatos que procurava evitar ameaças e agressões.
Um plano que segundo diversos observadores não evitou que o crime organizado também participe nas eleições ao "impor os seus candidatos", e quando a larga maioria dos autores dos assassinatos permanecem impunes.
A popularidade de AMLO também pode surpreender pelo facto de o México, com 126 milhões de habitantes, se manter, no quadro da pandemia de covid-19, o quarto país do mundo em números absolutos de mortos (227.840), a seguir aos Estados Unidos, Brasil e Índia. Mas há mais de 20 semanas que a progressão da pandemia foi contida, sendo relegada para segundo plano nas preocupações dos mexicanos.
Em maio, e segundo dados então divulgados, apenas 13% dos inquiridos a consideravam como o principal problema nacional, contra 42% em janeiro e 56% em abril de 2020. E num outro inquérito, o receio de ser vítima de um crime (44,7%) ultrapassava largamente o receio de contaminação pela covid-19 (17,8%).
Estas projeções também revelam a realidade de um país onde metade da população vive na pobreza e tem como prioridade a sua sobrevivência diária. Em fevereiro, o Conselho Nacional de Avaliação da Política de Desenvolvimento Social do Governo calculou que a pobreza no México atingiu mais 9,8 milhões de pessoas devido à crise sanitária.
Mas no decurso dos seus primeiros três anos de mandato, e segundo a Comissão Económica para a América Latina e Caraíbas -- um organismo da ONU -, López Obrador apenas aumentou em 0,3% as despesas públicas em 2020, longe dos investimentos neste setor protagonizados pelo Brasil ou Argentina. Uma opção que deverá ser forçado a corrigir. (RM-NM)
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