O Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) tem um défice de um terço do orçamento previsto para operações em Moçambique, segundo dados compilados na última semana.
Dos 25,7 milhões de dólares (22 milhões de euros) necessários, o organismo das Nações Unidas recebeu 17 milhões de dólares (14,5 milhões de euros) e há um défice de 8,7 milhões de dólares (7,4 milhões de euros), lê-se num relatório.
Os números são divulgados numa altura em que o país está a tentar encontrar soluções para uma das piores crises de deslocados internos de sempre, desencadeada pelos ataques rebeldes em Cabo Delgado, no norte do país.
"Mais de 732.000 pessoas estão deslocadas internamente no norte de Moçambique", segundo o ACNUR - um número que o Governo coloca em cerca de 817.000 pessoas -, que destaca o facto de os ataques de março contra Palma, vila dos projetos de gás, terem desencadeado "a fuga de cerca de 100.000 pessoas".
Além de Cabo Delgado, os deslocados encontram-se nas províncias de Nampula, Niassa e Zambézia, sendo que 45% são crianças, 32% mulheres adultas e 23% homens adultos.
"Na província de Cabo Delgado existem 663.000 deslocados, enquanto em Nampula estão registados 67.000", detalha o ACNUR.
O norte de Moçambique é rico em gás natural, mas aterrorizado desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
Desde julho, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a SADC permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas onde havia presença de rebeldes, nomeadamente a vila de Mocímboa da Praia, que estava ocupada desde agosto de 2020.
Embora a crise em Cabo Delgado tenha centrado atenções nos últimos anos, o trabalho do ACNUR em Moçambique abrange vítimas de outros conflitos.
Moçambique acolhe 28.345 refugiados e requerentes de asilo provenientes de outros países.
Cerca de 9.500 vivem no campo de refugiados de Maratane, na província de Nampula, o único espaço para acolhimento de refugiados do país, enquanto os restantes 19.000 residem em áreas urbanas por todo o país.
O Instituto Nacional de Apoio aos Refugiados (INAR) regista biometricamente refugiados e requerentes de asilo e já emitiu documentos de identificação para 26.950 pessoas desde 2017.
Mais de 10.000 dos 28.345 refugiados e requerentes de asilo são oriundos da República Democrática do Congo (RDCongo), seguindo-se os naturais do Burundi (mais de 8.000), Somália e Ruanda (cerca de 4.000 cada um). (RM-NM)
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