A União Europeia vai tentar enviar para Moçambique uma missão de apoio à formação militar semelhante àquela que tem no Sahel, afirmou hoje em Bruxelas o chefe da diplomacia europeia, assumindo crescente preocupação com a situação em Cabo Delgado.
Em declarações à entrada para um Conselho de Negócios Estrangeiros na vertente Defesa, o Alto Representante da UE para a Política Externa e de Segurança, Josep Borrell, ao antecipar os assuntos em discussão entre os ministros da Defesa dos 27, apontou que será dada particular atenção "ao que se passa na fronteira entre a Ucrânia e a Rússia", à "situação no Sahel, que não está a melhorar", e também "outra questão, cada vez mais preocupante, que é Moçambique".
"O Governo moçambicano tem pedido auxílio. Tentaremos enviar uma missão de formação [da UE], como aquela que temos no Sahel, de modo a conter a situação de segurança em Moçambique", declarou Borrell.
Apontando que o principal ponto em agenda na reunião de hoje de ministros da Defesa -- na qual Portugal é representado pelo ministro João Gomes Cravinho -- é a chamada Bússola Estratégica, o Alto Representante apontou que a discussão centrar-se-á na gestão de crises e em como melhorar a eficácia das missões e operações da UE em diferentes palcos, voltando então a abordar a questão de Moçambique.
"O Sahel é um caso, agora estamos a estudar a possibilidade de alargar a Moçambique", disse, acrescentando que a Bússola Estratégica é a forma como os 27 estão a procurar "reunir um entendimento comum dos desafios que os europeus estão a enfrentar".
"Acreditem, estes desafios estão a aumentar e a piorar. É por isso que hoje vamos ter um Conselho de ministros da Defesa muito importante", concluiu, nas suas declarações à entrada para a reunião.
Numa reunião de chefes de diplomacia da UE celebrada em 19 de Abril em Bruxelas, o ministro dos Negócios Estrangeiros português considerou "absolutamente essencial" e "absolutamente urgente" o "reforço da componente de paz e de segurança" na relação UE-Moçambique, após uma reunião com os seus homólogos europeus.
"O reforço da componente de paz e segurança na cooperação bilateral entre a União Europeia (UE) e Moçambique é absolutamente essencial e é absolutamente urgente", frisou Augusto Santos Silva.
Sublinhando que a política externa da UE se "faz em três dimensões complementares" -- a "cooperação para o desenvolvimento, acção humanitária e cooperação em matéria de paz e de segurança" --, Augusto Santos Silva sublinhou que as duas primeiras dimensões "já estão em curso", mas o seu incremento "exige condições de segurança indispensáveis".
Nesse sentido, o chefe da diplomacia portuguesa afirmou que, durante a reunião, Josep Borrell "suscitou" a questão do processo de decisão uma missão de apoio à formação militar em Moçambique, que originou uma "discussão política", sublinhando que "nunca esteve em questão, nem está em questão, a presença de tropas estrangeiras em território moçambicano para efeito de combate às redes terroristas que operam, infelizmente, em Cabo Delgado".
"Sempre esteve, e está em questão, a possibilidade de se materializar esse incremento da cooperação na área da segurança através de uma missão não executiva dirigida a formação e treino militar de tropas especiais moçambicanas", sublinhou.
Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED, e 714.000 deslocados, de acordo com o Governo moçambicano.
O mais recente ataque foi feito em 24 de Março contra a vila de Palma, provocando dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.
As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do projecto de gás com início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.
Os ministros da Defesa da União Europeia estão hoje reunidos em Bruxelas, num Conselho de Negócios Estrangeiros que tem entre os pontos em agenda uma discussão sobre a bússola estratégica e uma exposição sobre a situação em Moçambique.
De acordo com a agenda deste Conselho de Negócios Estrangeiros na vertente Defesa, Josep Borrell dará conta aos 27 de diversos assuntos correntes na cena internacional, incluindo "Sahel, Ucrânia, Moçambique e a Operação Irini" no Mediterrâneo.
Da agenda da reunião faz também parte uma discussão sobre a chamada bússola Estratégica -- uma prioridade da presidência portuguesa do Conselho da UE -, mais especificamente sobre o pilar da gestão de crises, e um debate sobre as relações da União Europeia com a NATO, no qual participa o secretário-geral da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg. (RM-NM)
Bem-vindo ao nosso Centro de Subscrição de Newsletters Informativos. Subscreva no formulário abaixo para receber as últimas notícias e actualizações da Rádio Moçambique.