O embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzya, classificou hoje o Tribunal Penal Internacional (TPI) de "instrumento do Ocidente" sempre disposto a "prejudicar" Moscovo, após o organismo ter emitido um mandado de prisão contra o líder da Rússia, Vladimir Putin.
Num debate organizado pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para abordar a situação humanitária na Ucrânia, Nebenzya focou parte da sua intervenção naquele que é o assunto do dia e acusou o TPI de ser "um órgão tendencioso e incompetente" e que "está em processo de autodestruição em termos da sua própria autoridade e reconhecimento internacional".
Além disso, em linha com o que foi expresso esta manhã por outros altos funcionários em Moscovo, Nebenzya lembrou que o seu país não é signatário do Estatuto de Roma e, portanto, "o TPI não tem jurisdição sobre a Rússia ou seus cidadãos", pelo que "qualquer documento que emitam é inválido", reiterou.
Já o embaixador ucraniano junto à ONU, Sergiy Kyslytsya, aplaudiu a decisão do TPI de emitir mandados de prisão contra Putin e a comissária para os Direitos da Criança no Gabinete do Presidente da Federação Russa, Maria Alekseyevna Lvova-Belova, considerando ser "um selo de importância histórica e um sinal poderoso para o mundo inteiro de que a responsabilidade está iminente".
"A punição é inevitável para todos os criminosos", frisou Kyslytsya.
Abordando outro dos assuntos em destaque na reunião, o diplomata russo referiu-se ao acordo de cereais do Mar Negro, que expiraria este sábado, e voltou a deixar claro que o seu país o considera prorrogado por apenas mais dois meses, e a sua eventual extensão além desse período dependerá do levantamento de restrições às próprias exportações russas.
"Se Washington, Bruxelas e Londres querem continuar a exportar por corredores marítimos, devem lembrar-se que ainda têm dois meses para acabar com as sanções que a cadeia logística suporta em relação às exportações agrícolas russas", afirmou.
Nebenzya criticou ainda a "transformação daquilo que deveria ser uma iniciativa humanitária numa iniciativa comercial", criticando o facto de os países mais pobres não receberem a totalidade das exportações.
A reunião de hoje foi convocada pela França e pelo Equador para debater a situação humanitária na Ucrânia, com o subsecretário-geral para Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, a focar o seu 'briefing' na necessidade de prolongamento do acordo dos cereais e no impacto que a sua descontinuidade terá a nível global.
"O mundo depende desses suprimentos. A assinatura do acordo dos cereais e o memorando de entendimento para a exportação de alimentos e fertilizantes russos foi um passo crítico na luta mais ampla contra a insegurança alimentar global, especialmente nos países em desenvolvimento. Os mercados acalmaram-se e os preços globais dos alimentos continuaram a cair", disse.
Em relação às exportações de produtos russos, Griffiths observou que foram feitos "progressos significativos", mas admitiu que os impedimentos permanecem, principalmente no que diz respeito aos sistemas de pagamento.
"Há mais a fazer e os nossos esforços para superá-los continuarão inabaláveis. É vital para a segurança alimentar global que ambos os acordos continuem e sejam totalmente implementados", apelou.
As palavras de Martin Griffiths foram apoiadas por vários diplomatas, com o Reino Unido a pedir à Rússia que respeite os termos do acordo e a sua extensão por 120 dias.
Já a embaixadora norte-americana junto à ONU, Linda Thomas-Greenfield, contestou a Rússia sobre os argumentos de que Moscovo está a ter as suas exportações prejudicadas devido a sanções: "Sabemos, e o resto do mundo sabe, que as exportações de alimentos da Rússia são pelo menos tão altas quanto os níveis de antes da guerra", disse.
"Quando ouvimos o Governo russo dizer que está a ser impedido de exportar cereais e fertilizantes, os números mostram que isso não é verdade. E quando se trata de sanções, nós esforçamo-nos ao máximo para comunicar as isenções claras de alimentos e fertilizantes aos Governos e ao sector privado. Simplificando, as sanções não são o problema", advogou a norte-americana. (RM /NMInuto)
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