A Junta Militar que tomou o poder no Níger a 26 de Julho avisou quinta-feira que ripostará imediatamente a qualquer agressão da CEDEAO, denunciou os acordos militares assinados com França e afastou quatro embaixadores noutros tantos países.
Num comunicado transmitido pela televisão nacional na noite de quinta-feira, lido pelo coronel Amadou Abduramane, os golpistas, organizados no Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CNSP), apelam à população para que esteja "vigilante" contra "espiões e forças armadas estrangeiras" e para que alerte as autoridades para quaisquer movimentos suspeitos.
Por outro lado, os golpistas denunciaram os vários acordos militares assinados com a França, nomeadamente no que diz respeito ao "estacionamento" do destacamento francês e ao "estatuto" dos soldados presentes no âmbito da luta contra o 'jihadismo'.
"Perante a atitude e a reacção leviana da França face à situação" no Níger, "o CNSP decidiu denunciar os acordos de cooperação no domínio da segurança e da defesa com aquele país", declararam os golpistas.
A Junta Militar anunciou também a "cessação" das "funções" dos embaixadores do Níger em França, nos Estados Unidos, na Nigéria e no Togo.
O comunicado surge poucas horas depois da chegada a Niamey de uma delegação da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), numa tentativa de encontrar uma saída para a crise, oito dias após o golpe de Estado liderado pelo general Abdourahamane Tiani que derrubou o regime do presidente democraticamente eleito Mohamed Bazoum.
Os vizinhos da África Ocidental ameaçaram usar a "força" se o Presidente Bazoum não for reintegrado até ao próximo domingo.
A delegação da CEDEAO, chefiada pelo antigo chefe de Estado nigeriano Abdulsalami Abubakar, deverá "encontrar-se com os líderes do golpe de Estado no Níger para apresentar as exigências dos líderes da CEDEAO", de acordo com um comunicado da presidência nigeriana.
O Presidente da Nigéria, Bola Tinubu, actual Presidente da CEDEAO, pediu-lhe que "fizesse tudo o que fosse possível" para uma "resolução amigável" da crise no Níger, na sequência das sanções impostas ao país e de um ultimato dado aos golpistas para restabelecerem a ordem constitucional, sob pena de recorrerem à "força".
A organização oeste-africana, que suspendeu as transacções financeiras com o Níger, declarou que estava a preparar uma operação militar, embora tenha sublinhado que esta era "a última opção em cima da mesa".
Paralelamente, os chefes de Estado-Maior da CEDEAO vão reunir-se ao longo do dia de hoje em Abuja, Nigéria, enquanto vários exércitos da África Ocidental, incluindo o do Senegal, dizem estar prontos a intervir se o ultimato não for respeitado no domingo.
Numa entrevista à agência noticiosa France-Presse (AFP), o embaixador do Níger em Washington, Kiari Liman-Tinguiri, um dos entretanto afastados do cargo, pediu à Junta Militar para "ganhar juízo".
"Se o Níger entrar em colapso, todo o Sahel entrará em colapso e será desestabilizado […] e teremos [o grupo de mercenários] Wagner e os 'jihadistas' a controlar a África desde a costa até ao Mediterrâneo", advertiu Liman-Tinguri.
Por outro lado, o Mali e o Burkina Faso declararam que qualquer intervenção armada no Níger será considerada "como uma declaração de guerra" contra os dois países.
Se as relações entre Niamey e o bloco da África Ocidental são tensas, também o são com a França, a antiga potência colonial.
Na quinta-feira, os programas da RFI (Radio France Internationale) e do canal de notícias televisivo France 24 foram interrompidos no Níger, "uma decisão tomada fora de qualquer quadro convencional e legal", segundo a empresa-mãe dos dois meios de comunicação, France Médias Monde.
A suspensão das emissões ocorreu no dia do 63.º aniversário da independência do Níger
Desde o golpe de Estado, as relações com Paris deterioraram-se. Os incidentes ocorridos no domingo, durante uma manifestação diante da embaixada francesa, levaram à evacuação de mais de 500 cidadãos franceses.
Milhares de manifestantes que apoiam a junta no poder saíram às ruas de várias cidades nigerianas na quinta-feira, numa manifestação pacífica convocada pelo M62, uma coligação de organizações "soberanistas" da sociedade civil.
Muitos deles entoaram slogans críticos em relação à França e agitaram bandeiras da Rússia - país do qual o Mali e o Burkina Faso já se aproximaram.
O acesso à embaixada francesa e a outras chancelarias próximas foi bloqueado na quinta-feira pelas forças de segurança nigerianas, observaram os jornalistas da AFP.
Antes da manifestação, Paris tinha reiterado "que a segurança das instalações diplomáticas e do pessoal (eram) obrigações ao abrigo do direito internacional".
O Níger é um dos países mais pobres do mundo, apesar dos seus recursos de urânio.
Assolado por ataques de grupos ligados ao Estado Islâmico e à Al-Qaeda, é o terceiro país da região a sofrer um golpe de Estado desde 2020, depois do Mali e do Burkina Faso. (RM /NMInuto)
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