A organização não-governamental (ONG) ucraniana Centre for Civil Liberties (CGS), galardoada com o prémio Nobel da Paz 2022, documentou recentemente 31 casos de tortura perpetrados pelo Exército russo Kherson, elevando o número total nacional para 300.
"Até agora, documentámos 300 casos de tortura em todo o país e 31 na região de Kherson", disse esta terça-feira à agência de notícias EFE a directora-executiva do CGS, Oleksandra Romantsova.
Romantsova espera que esses 300 documentados de tortura, executados desde a invasão russa da Ucrânia em 24 de Fevereiro, cheguem ao Tribunal Penal Internacional (TPI) "em alguns anos".
"Precisamos de informações pessoais dos autores dos crimes, pois é necessária que a acusação seja pessoal", diz sobre o processo de documentação -- não de investigação criminal -- que a CGS já iniciou.
"Todos os casos de tortura irão para o TPI, espero que todos", disse a activista, de Nicolaiev, cidade próxima de Kherson, recentemente libertada pelo Exército ucraniano.
A CGS também tem conhecimento de mais 10.000 crianças ucranianas separadas das suas famílias e "deslocadas à força", um número fornecido à organização humanitária pelo Provedor de Justiça.
"Sabemos os nomes", disse Romantsova sobre essas crianças, embora reconhecendo que ainda não sabe quantos menores perderam os seus pais durante a guerra e a ocupação, já que não há estatísticas oficiais.
Quanto aos abusos sexuais, existe uma linha telefónica em todo o país e foram denunciados 30 casos, enquanto o procurador-geral abriu inquérito a nove deles.
"Ninguém fala sobre esses crimes. Vamos saber quando a guerra acabar e as pessoas se sentirem mais seguras", disse a activista ucraniana.
Relativamente ao total de desaparecidos, a CGS considera o número oficial de 50 mil casos, um estatuto que, segundo a mesma, deve ser qualificado, porque sabe que muitos se encontram na Rússia.
Ao todo, o banco de dados do CGS dá hoje um total 26.000 crimes de guerra, o que faz a sua directora-executiva falar em "genocídio" contra o povo ucraniano.
De acordo com Romantsova, são crimes de guerra sistemáticos que "estão a acontecer em todos os lugares e seguem o mesmo padrão".
O procurador-geral considera que estes crimes de guerra já ascendem a 50.000, sem incluir as estatísticas de Kherson, algo que leva Romantsova a prever um número muito superior.
"Quando os novos dados forem revelados, não espero menos de 200.000 casos [de crimes de guerra] no total", diz. (RM-NM)
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