As Nações Unidas denunciaram hoje os abusos cometidos pelo grupo armado Wagner ti Azandé (WTA) na República Centro-Africana (RCA), com ligações ao exército regular, na apresentação de um relatório em Nova Iorque.
Segundo a ONU, este grupo rebelde é acusado, nomeadamente, de matar 24 pessoas e violar mulheres durante dois ataques no sudeste da RCA, em Outubro de 2024 e Janeiro de 2025.
"Os ataques foram dirigidos e coordenados por elementos do Wagner ti Azandé (WTA), um grupo com ligações ao exército nacional", de acordo com um comunicado de imprensa da ONU enviado à agência noticiosa France-Presse (AFP) após a apresentação do relatório em Nova Iorque.
Além dos assassinatos e das "execuções sumárias", os ataques nas províncias de Mbomou e Haut-Mbomou foram marcados por "violência sexual e tratamentos cruéis, desumanos e degradantes" de adultos e crianças, refere o relatório, que apela a "medidas urgentes" para travar o grupo armado.
"Estes crimes horríveis não podem ficar impunes", declarou o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, apelando a que "as ligações entre o WTA e o exército nacional sejam esclarecidas".
O WTA teve origem no grupo de autodefesa Azandé Ani Kpi Gbé (AAKG) e os seus homens eram filiados no exército centro-africano. Foram treinados pelo grupo paramilitar russo Wagner em Maio de 2024, quando as autoridades centro-africanas queriam recuperar o controlo destas zonas, segundo o relatório elaborado pelos investigadores da Missão de Estabilização das Nações Unidas na República Centro-Africana (Minusca).
O grupo AAKG provém da etnia dominante na região e o seu nome significa "os Azande sofreram o suficiente" na língua Zande. Surgiu em Fevereiro de 2023 para "proteger a população Zande", maioritariamente cristã, face aos abusos da União para a Paz na África Central (UPC), um grupo rebelde Peul, segundo a mesma fonte.
"Os WTA são responsáveis por 78% dos abusos cometidos" e identificados pelos investigadores da ONU nas províncias de Mbomou e Haut-Mbomou, segundo o relatório.
As "populações muçulmanas centro-africanas e os requerentes de asilo sudaneses" foram particularmente visados por serem considerados simpatizantes da UPC, segundo o relatório.
A República Centro-Africana, um país sem litoral na África Central e um dos mais pobres do mundo, tem sido atormentada por golpes de Estado e conflitos recorrentes desde a sua independência da França em 1960.
Segundo a Human Rights Watch (HRW), 2,8 milhões de pessoas foram afectadas pela violência no ano passado. Apesar do processo de regresso ao país, 1,2 milhões de centro-africanos continuam a ser refugiados ou deslocados internos, de acordo com a ONU.
O Governo assegurou as principais cidades inicialmente com as tropas francesas da missão Sangaris, com o apoio da Minusca a partir de 2014, e depois com o apoio decisivo dos mercenários wagnerianos e ruandeses. (RM-NM)
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