Os aliados do exército da República Democrática do Congo (RDCongo) e o grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23) acusaram-se hoje mutuamente de desrespeito pela trégua humanitária, que devia durar até 19 de julho.
Na manhã desta sexta-feira eclodiram confrontos em Nyange e em várias localidades vizinhas, cerca de 70 quilómetros a noroeste de Goma, a capital do Kivu do Norte, "na sequência de um ataque dos Wazalendo (grupos armados associados ao exército congolês) contra o M23", disse à agência noticiosa France-Presse (AFP) um residente local.
O porta-voz de uma milícia Nyatura (um grupo armado predominantemente hutu), aliada do Governo, na zona confirmou os confrontos, dizendo que "os combates continuam em Karumu, Luhanga e Bweru", onde as suas tropas estão envolvidas.
Também um porta-voz do M23, Lawrence Kanyuka, publicou na rede social X que o Governo e o exército congoleses estão a colaborar ativamente com as milícias Nyatura e Wazalendo, "responsáveis pelos massacres de compatriotas", e garantiu que "as últimas ações do regime não deixam margem para negar a sua colaboração com estes grupos armados violentos".
"Perante isto, reiteramos o nosso apelo ao diálogo direto para abordar e resolver as causas profundas dos conflitos. Exortamos a comunidade regional, nacional e internacional, bem como as organizações humanitárias, a reconhecerem a gravidade desta situação e a tomarem medidas imediatas para responsabilizar o regime de Kinshasa pelas suas violações e provocações", concluiu Kanyuka.
As partes em guerra acusam-se mutuamente de ataques e de desrespeito pelo cessar-fogo que deveria durar duas semanas.
O tenente-coronel Guillaume Ndjike, porta-voz do exército congolês no Kivu do Norte, acusou o exército ruandês de ter "lançado ataques simultâneos (...) contra as posições das Forças Armadas da RDCongo e dos seus parceiros nas aldeias de Nyange e Mpati".
No passado dia 05, os Estados Unidos anunciaram a aceitação de uma "trégua humanitária" de duas semanas no conflito entre as forças governamentais congolesas e os seus aliados, por um lado, e a rebelião M23 e o exército ruandês, por outro.
"A situação humanitária no Kivu do Norte é desastrosa, com quase três milhões de pessoas deslocadas", lamentou o Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca num comunicado.
"A trégua humanitária (...) obriga as partes em conflito a silenciar as armas, a permitir o regresso voluntário das pessoas deslocadas e a proporcionar ao pessoal humanitário um acesso sem entraves às populações vulneráveis", especificava.
Desde o final de 2021, o M23, apoiado por unidades do exército ruandês, conquistou vastas faixas de território no Kivu do Norte, chegando a cercar quase completamente a capital da província, Goma.
No final de Junho, o M23 e o exército ruandês tomaram várias cidades no território de Lubero, no norte do Kivu do Norte, após o colapso do exército congolês e das suas milícias auxiliares.
Nos dias que se seguiram, cerca de 50 soldados congoleses foram condenados à morte por terem "fugido perante o inimigo".
Em Março, a RDCongo, país que faz fronteira com Angola, decidiu levantar a moratória sobre as execuções que estava em vigor desde 2003. (RM-NM)
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