Mais de 25 milhões de eleitores estão inscritos para escolherem domingo entre a candidata de direita, Keiko Fujimori, e o de esquerda Pedro Castillo, na segunda volta das eleições presidenciais no país.
Na primeira volta, que decorreu em 11 de abril, Pedro Castillo, do partido de esquerda radical Peru Livre, recebeu 19% dos votos, e Keiko Fujimori, do partido Força Popular - pela terceira vez candidata presidencial e filha do antigo Presidente Alberto Fujimori (1990-2000) -, obteve 13,3% dos votos.
A segunda volta das presidenciais no Peru realiza-se num ambiente de extrema polarização política e com um grande desinteresse da população. O país teve quatro Presidentes entre 2016 e 2021 e a corrupção governamental continua a ser um tema forte no país.
Pedro Castillo, professor de ascendência humilde e camponesa, é o dirigente do sindicato dos professores e o seu primeiro grande contacto com a política peruana foi como gestor de uma greve geral no setor que em 2017 colocou em xeque o Governo do então Presidente Pedro Pablo Kuczynsky.
Ninguém esperava que este homem de 51 anos de ascendência humilde e camponesa pudesse estar a um passo de conquistar a Presidência do país com seu peculiar chapéu 'chotano', um lápis e um discurso que colide com a atual política do país e os dogmas do mercado livre que governaram o Peru com firmeza há 30 anos.
Parte do discurso radical de esquerda do professor, como a nacionalização do setor de mineração e energia, ou a limitação das importações vem da ideologia do partido Peru Livre, no qual concorre à Presidência.
Já Keiko Fujimori é apontada como exemplo paradigmático de todas as más práticas da política no Peru, mas agora foi reconvertida na esperança de salvar o modelo económico e social liberal estabelecido pelo seu pai [condenado em 2009 a 25 anos de prisão por crimes contra a Humanidade e corrupção].
Em poucos lugares do mundo seria viável uma candidata como Keiko Fujimori concorrer à Presidência, visto que é acusada de associação criminosa e branqueamento de capitais, para os quais a procuradoria peruana pede 30 anos de prisão.
Keiko Fujimori, que passou mais de um ano na prisão (de outubro de 2018 a maio de 2020), está à beira de um julgamento que só evitará se for eleita Presidente e garantir a imunidade.
Fujimori, de 45 anos e formada em Gestão, é bem articulada nos quadros experientes da Força Popular e apoiada de forma unânime por toda a direita económica e social e pela grande maioria dos meios de comunicação. Nesta segunda volta, Keiko Fujimori não pede para votarem nela, mas pede para votarem contra o "comunismo".
A pandemia de covid-19 deixou um rastro de destruição económica e social no Peru, que sofreu uma queda de 11% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020. A dívida pública do país cresceu de 26,8% do PIB em 2019 para 35% em 2020, e teme-se que continue a subir até atingir o pico de 37% entre 2022 e 2023.
O Governo de transição do Presidente Francisco Sagasti entregará o cargo no dia 28 de julho ao novo Presidente no bicentenário da independência do país, que terá de enfrentar um país onde a pobreza cresceu seis pontos percentuais, para 27,5% da população no ano passado.
A covid-19 expôs no Peru as grandes lacunas nos serviços públicos e de saúde, já que em março de 2020 os centros hospitalares tinham apenas 100 camas de cuidados intensivos em que os pacientes podiam ser ligados a um ventilador mecânico.
Atualmente, o Peru já vacinou mais de 2,4 milhões de pessoas (numa população de 32,5 milhões) e adquiriu 60 milhões de doses para imunizar toda a sua população adulta até ao final do ano.
O Peru já registou mais de 185 mil mortes pela covid-19 e mais de 1,9 milhões de infeções pelo novo coronavírus, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre os países mais atingidos, o Peru é o que tem apresentado o maior número de mortes em proporção à sua população. (RM-NM)
Bem-vindo ao nosso Centro de Subscrição de Newsletters Informativos. Subscreva no formulário abaixo para receber as últimas notícias e actualizações da Rádio Moçambique.