O rei Carlos III efectua visita de Estado a França, a partir desta quarta-feira, para estreitar os laços entre os dois países, num pós-Brexit.
A visita, a primeira do monarca para uma deslocação ao estrangeiro, devia ter ocorrido em Março, mas as manifestações contínuas contra a reforma do sistema de pensões em França levaram o monarca britânico à Alemanha.
Agora, Carlos III vai passar dois dias em Paris e um em Bordéus, com fonte do Palácio do Eliseu a garantir que se trata de estreitar laços entre os dois países. O rei será recebido na quarta-feira no Arco do Triunfo pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, com um jantar de Estado no Palácio de Versalhes.
Para o investigador Patrick Chevallereau, do Instituto Francês de Assuntos Internacionais e Estratégicos (IRIS), esta é uma visita que serve para reforçar laços e também para ultrapassar alguns dos traumas da saída do Reino Unido da União Europeia, que afastaram Londres e Paris nos últimos anos.
"É uma visita importante, até porque foi a primeira escolha do novo rei. E tem outro significado, já que é uma visita que acontece poucos anos depois do Brexit, um evento doloroso e problemático entre os dois países, pois travou um determinado número de cooperações e é preciso um relançar das relações, já que a situação internacional está a complicar-se", indicou Chevallereau em declarações à Agência Lusa.
As relações entre os dois países voltaram a intensificar-se no início do ano, quando uma cimeira franco-britânica trouxe a Paris o novo primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, e o seu executivo.
"As relações [com o anterior primeiro-ministro britânico, Boris Johnson] nunca foram boas. Toda a gente pôde ver isso. A chegada de Rish Sunak mudou as coisas na boa direcção, porque já não é um líder populista e temos alguém responsável e competente", indicou o investigador, que foi também adido de defesa na Embaixada de França em Londres.
Nessa cimeira ficou decidido um novo acordo sobre o controlo da imigração ilegal de França para o Reino Unido, em que Sunak passou um cheque de 543 milhões de euros a Emmanuel Macron para aumentar a vigilância nas praias gaulesas, especialmente Calais, muito próxima da costa britânica.
"A imigração é um tema muito político e potencialmente fracturante, difícil, delicado, entre dois países que já não fazem parte do mesmo espaço, mas estão separados por apenas 40 quilómetros de distância e a geografia não vai mudar", indicou Patrick Chevallereau.
Na quinta-feira, o monarca britânico fará um discurso no Senado e visitará os estaleiros das obras de reconstrução da Notre Dame. No fim do dia, o rei vai falar numa conferência sobre clima e biodiversidade no Museu de História Natural.
"O ambiente é algo que diz mais ao Rei Carlos III, tendo em conta o investimento pessoal que o próprio lhe tem consagrado. Acho que vai mencionar este tema de forma diferente de como fez quando ainda não era rei, porque a sua posição mudou e será talvez mais prudente. Ou talvez não, porque são as convicções dele. E esta é também uma das prioridades do Governo francês", lembrou o investigador.
Na sexta-feira, o monarca segue para Bordéus, onde vai visitar uma vinha biológica e participar num encontro entre empresários franceses e empresários britânicos, dedicando ainda algum tempo a uma visita aos bombeiros que combateram grandes incêndios naquela região em 2022.
A visita do rei também vai ficar marcada por momentos entre a rainha consorte, Camila, e a primeira-dama francesa, Brigitte Macron, que vão lançar um novo prémio literário conjunto.
"O rei vai insistir na força dos laços entre Paris e Londres, na herança de uma parceria estratégia com quase 150 anos. Paris e Londres atravessaram lado a lado todos os grandes desafios do século XX, especialmente as duas guerra mundiais". afirmou.
Chevallereau apontou que "a degradação da situação internacional e os perigos que traz" poderão levar Paris e Londres a reforçar a cooperação "porque são países muito similares na cena internacional, quer seja em termos PIB, rede diplomática, esforços militares, são membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas e potenciais nucleares". (RM-NM)
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