Recato, contenção e simbolismo marcaram, este domingo, o derradeiro adeus a Jorge Sampaio, no Alto de São João, onde o solene silêncio apenas foi interrompido por salvas de tiros, palmas, o som das botas dos militares e um "Viva Sampaio".
Uma enorme fotografia onde se podia ler "Obrigado, Jorge Sampaio" -- igual à do retrato que sábado ocupava a entrada no antigo picadeiro real onde decorreu o velório -- era para onde o olhar era captado quando se entrava no cemitério do Alto de São João, em Lisboa.
As quatro coroas de flores - da família, do Presidente da República, do presidente da Assembleia da República e do primeiro-ministro - que durante todo o velório estiveram junto à urna do antigo chefe de Estado aguardavam a chegada do cortejo fúnebre.
Cá fora, bem antes da hora inicialmente prevista e depois de sair do Mosteiro dos Jerónimos e percorrer algumas ruas da cidade da qual Jorge Sampaio foi presidente da câmara, o carro funerário chegou ao cemitério, onde foi recebido pelas palmas dos muitos populares presentes e pela guarda de honra composta por militares dos três ramos das Forças Armadas.
Depois de se ouvir a marcha fúnebre, pela banda da Armada, a urna do antigo chefe de Estado foi transportada até ao cemitério e ouviram-se três estridentes tiros de salva, um momento no qual só esteve um núcleo mais restrito, as três principais figuras do Estado, o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, almirante Silva Ribeiro, e o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina.
A mulher de Jorge Sampaio, Maria José Ritta, a filha Vera e o filho André, sempre juntos e presentes ao longo destes dois dias, estiveram na fila da frente, tendo-lhes sido devolvidas as insígnias pertencentes ao antigo Presidente da República.
Enquanto a bandeira de Portugal que cobria a urna era retirada e dobrada por cinco fuzileiros, o silêncio, solene e respeitador, foi interrompido pelas salvas de 21 tiros executados a partir do Navio Patrulha Oceânico Sines, fundeado no Tejo, um som que irrompeu das colunas para esse efeito colocadas no cemitério.
As honras militares concedidas no funeral de Estado incluíram a formação, a partir da Praça Paiva Couceiro, de alas compostas por 57 militares dos três ramos das Forças Armadas, provenientes de várias unidades de Marinha, Regimento de artilharia antiaérea de Queluz e do centro de formação militar e técnica da Força Aérea Portuguesa na Ota.
À entrada do cemitério, aguardava também uma Guarda de Honra constituída por 165 militares dos três ramos.
Foi das mãos de Marcelo Rebelo de Sousa que Maria José Ritta recebeu a bandeira cuidadosamente dobrada, tendo depositado um beijo neste símbolo nacional.
De novo o silêncio, só interrompido pelo barulho das máquinas dos muitos fotojornalistas presentes e das botas dos militares a bater no alcatrão no momento que marcharam para sair da frente do cemitério.
Abraços e beijos nas despedidas de Marcelo Rebelo de Sousa, Eduardo Ferro Rodrigues e António Costa à família, para quem, nesse momento, a cerimónia passou a ser reservada.
A urna foi depois levada até o jazigo familiar pelo filho André e por elementos que tinham pertencido ao corpo de segurança pessoal de Jorge Sampaio.
É neste momento que populares que estavam do lado de fora do cemitério bateram novamente palmas e gritaram "Viva Sampaio", entre lágrimas.
Findas as cerimónias fúnebres e depois do momento dedicado exclusivamente à família -- que à saída também foi saudada com uma salva de palmas -, vários foram os anónimos que fizeram questão de entrar no Alto de São João e deslocar-se até ao jazigo.
Jorge Sampaio foi presidente de Portugal, entre 1996 e 2006, e perdeu a vida, esta sexta-feira, vítima de doença. (RM /NMinuto)
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