Terceira dose torna ainda mais difícil a África atingir imunização

Publicado: 09/09/2021, 17:20

O director do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC ), John Nkengasong, afirmou esta quinta-feira que se os países desenvolvidos avançarem massivamente com a terceira dose da vacina contra a covid-19, será "ainda mais difícil" a África atingir os objectivos de imunização.

 

"Se os países [desenvolvidos] começarem a avançar com a terceira dose, isso tornará ainda mais difícil atingir o objectivo da taxa de imunização de 60 a 70 por cento" da população do continente africano, afirmou na conferência semanal online do organismo a partir de Adis Abeba (Etiópia).

Neste contexto, afirmou ainda o epidemiologista que dirige o África CDC: "Não vimos ainda ciência suficiente que justifique uma política de aconselhamento de uma terceira dose ou de reforço de doses de vacinas".

"Em primeiro lugar, não sabemos em que ponto o nível de anticorpos baixa até que deixa de oferecer protecção à progressão da doença. Recordemos que nenhuma das vacinas nos protege da infecção, o que fazem é diminuir a hostilidade do vírus", explicou Nkengasong.

"Ainda não temos informação suficiente para conduzirmos políticas adequadas de aconselhamento relativamente à administração de uma terceira dose ou ao reforço das doses administradas", disse o director do África CDC.

Nkengasong reagiu ainda à informação na quarta-feira avançada pelo mecanismo Covax, de acesso global a vacinas contra a covid-19 destinado aos países de baixo e médio-baixo rendimento, segundo a qual espera ter apenas um total de 1,425 mil milhões de doses disponíveis em 2021, um objectivo consideravelmente abaixo dos dois mil milhões de doses originalmente fixado pelo sistema, e que o Covax espera agora alcançar apenas no final do primeiro trimestre de 2022.

Os países africanos reconheceram que "têm que depender de si mesmos" para a aquisição das vacinas que precisam, incluindo a capacidade própria de as produzir, sublinhou Nkengasong.

O continente estabeleceu inicialmente como objectivo imunizar entre 60 e 70 por cento da população, pelo que estimava administrar 1,6 mil milhões de doses de vacina.

O Mecanismo de Aquisição de Vacinas da União Africana (AVAT) prevê distribuir 400 milhões da vacina de dose única da Johnson & Johnson em todo o continente, o que equivale a 800 milhões das doses estimadas inicialmente, ou seja cerca de 50 por cento desse objectivo inicial.

"Isto quer dizer que o mecanismo AVAT não permite ao continente atingir a totalidade do objetivo fixado pelo que continua a necessitar de recorrer a mecanismos como o da Covax e aos acordos bilaterais com vários países dadores", explicou Nkengasong.

"Se os países começarem a avançar com a terceira dose, isso tornará ainda mais difícil atingir o objectivo da taxa de imunização de 60 por cento", afirmou então o director do África CDC.

Instado a deixar uma mensagem à Assembleia Geral das Nações Unidas e à reunião do G20, que se realizam este mês e no próximo, Nkengasong escusou-se a "politizar ainda mais" a questão da distribuição equitativa de vacinas.

"Todos reconhecem que a União Africana e o África CDC se têm batido pela moralização da distribuição equitativa das vacinas. Em 21 de Janeiro fui muito claro quando afirmei que estávamos a caminhar para uma catástrofe moral. As pessoas acharam que tinha sido muito agressivo, mas hoje estamos como estamos, apenas três por cento da população do continente está totalmente vacinada", afirmou.

"Portanto, a nossa mensagem para esses dois eventos importantes é que não podemos continuar a politizar esta situação e a fazermos declarações que não honramos, fazendo promessas que não se tornam realidade", acrescentou.

O responsável fez igualmente um balanço da disseminação da pandemia no continente, que regista um total acumulado de 7,9 milhões de casos de infecção desde o seu início em Março de 2020, número que corresponde a 3,6 por cento dos casos de contaminação em todo o mundo.

O total de casos de recuperação é de 7,2 milhões de pessoas e cerca de 201 mil pessoas morreram por causas relacionadas com a doença.

Um pequeno conjunto de países é responsável por 64 por cento dos casos de infecção em todo o continente: a África do Sul (36 por cento), Marrocos (11 por cento), Tunísia (nove por cento), Líbia e Etiópia (ambas com quatro por cento).

Um conjunto de 42 países (76 por cento dos 55 estados-membros da União Africana) atravessam uma terceira vaga de infecções, 31 dos quais passam por uma terceira vaga "severa", em que o pico do número de casos de morte ultrapassa significativamente o registado na vaga anterior de infecções.

Entretanto, seis países estão agora a entrar numa quarta vaga, nomeadamente, a Argélia, Benim, Quénia, Maurícias, Somália e Tunísia.

Em termos das variantes, 43 países reportam a presença da variante alfa, 37 apontaram a presença da variante beta e 36 países revelaram a variante delta.

Até hoje, o continente recebeu 145,4 milhões de doses de vacinas, das quais 111 milhões (77 por cento das doses recebidas) foram ministradas. Em termos da população vacinada, 3,1 por cento da população do continente recebeu duas doses da vacina ou tem a vacinação concluída. Alguns países destacam-se nesta campanha, nomeadamente Marrocos, que já vacinou com duas doses 44 por cento da sua população; África do Sul (15,9 por cento) ou Egipto (3,6 por cento). (RM-NM)

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