As autoridades turcas estão a deportar milhares de refugiados sírios para Tel Abyad, uma região ocupada pelos turcos no norte da Síria, "onde as condições humanitárias são terríveis", denunciou hoje a Human Rights Watch (HRW).
Segundo a organização, a entrada de sírios na fronteira de Tel Abyd de duplicou no primeiro semestre do ano passado relativamente ao mesmo período de 2022, sendo que todos são registados como regressos voluntários.
A investigação da HRW descobriu que, desde 2017, as forças turcas "prenderam, detiveram e deportaram sumariamente milhares de refugiados sírios, muitas vezes coagindo-os a assinar declarações de regresso 'voluntário' e forçando-os a atravessar para o norte da Síria", refere a organização de defesa dos direitos humanos em comunicado hoje divulgado.
Segundo adianta, as autoridades turcas não responderam a uma carta enviada pela HRW em 01 de fevereiro, na qual partilhava os resultados de investigação e solicitava explicações.
"Estes regressos 'voluntários' são frequentemente coagidos" e para "'zonas seguras' que são poços de perigo e desespero", explicou, no mesmo comunicado, o vice-diretor para o Médio Oriente e Norte de África da HRW, Adam Coogle.
"A promessa da Turquia de criar 'zonas seguras' mostra-se vazia, uma vez que os sírios se veem forçados a embarcar em viagens perigosas para escapar das condições desumanas de Tel Abyad", referiu.
Segundo os investigadores da organização humanitária, entre janeiro e dezembro de 2023, as autoridades turcas deportaram 57.519 sírios e outros refugiados, incluindo 16.652 para Tel Abyad.
Testemunhas ouvidas pela HRW garantiram à organização que tinham sido detidas e "forçadas a assinar declarações de que estavam a fazer um regresso voluntário" às chamadas "áreas seguras do norte da Síria".
Seis deportados afirmaram ter uma autorização turca de identificação de proteção temporária, que deveria proteger legalmente os refugiados sírios contra o regresso forçado à Síria.
"A Turquia diz que pretende transformar áreas do norte da Síria sob seu controlo, incluindo Tel Abyad , em "zonas seguras", mas, na realidade, estas áreas estão repletas de violações dos direitos humanos", aponta a HRW, lembrando que, em maio de 2022, o Presidente turco anunciou um plano para criar uma "zona segura" nos territórios ocupados pela Turquia no norte da Síria e construir casas para acomodar até um milhão de refugiados sírios.
Um relatório da HRW publicado em 29 de fevereiro documentou graves violações dos direitos humanos e potenciais crimes de guerra "nestas regiões sem lei", cometidos principalmente por grupos armados locais apoiados pela Turquia.
A organização, adianta, também descobriu que membros das forças armadas turcas e de agências secretas estiveram envolvidos na execução e supervisão de abusos aos refugiados. (RM-NM)
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