A Zâmbia escolhe, esta quinta-feira, o seu Presidente para os próximos cinco anos, num escrutínio de desfecho imprevisível entre os dois principais candidatos, o actual chefe de Estado, Edgar Lungu, e o seu arquirrival, Hakainde Hichilema.
A Zâmbia é uma das democracias africanas mais estáveis, mas segundo vários analistas esta reputação pode vir a ser destruída, caso o escrutínio não seja "livre e justo".
As sondagens apontam para uma distância muito curta entre os dois principais candidatos, entre um total de 16 pretendentes a ocupar a "State House" em Lusaca, e a economia assume-se como o principal campo de batalha, onde Lungu tem vindo a perder credibilidade ao longo de todo o mandato, mas sobretudo nos últimos quase dois anos, por efeito da pandemia.
Os críticos de Lungu acusam o Presidente de pautar o anterior mandato pela restrição sistemática das liberdades democráticas, fechando órgãos de comunicação social -- um jornal independente em 2016 e uma estação de televisão em 2020 - e detendo políticos da oposição, assim como várias vozes mais incómodas ao seu Governo.
A organização Human Rights Watch acusou em junho o Governo de Lungu de conduzir o segundo maior produtor de cobre do continente africano ao "limiar de uma crise de direitos humanos".
Nas últimas semanas, a violência tem vindo a aumentar, particularmente entre apoiantes dos dois principais partidos, oferendo a Lungu a justificação para colocar os militares nas ruas das principais cidades zambianas nos dias que antecederam o escrutínio.
Lungu argumentou que as tropas foram destacadas para manter a ordem e a oposição acusa-o de pretender intimidar os eleitores.
A economia foi o tabuleiro em que Lungu e Hichilema jogaram os seus argumentos de campanha. O Presidente reclama o crédito de ter modernizado as infraestruturas do país, construindo escolas, hospitais e autoestradas.
Hichilema denuncia o galope da dívida pública, atualmente em 118,7% do PIB e que o FMI estima poder alcançar os 145% do produto em 2025, o incumprimento sucessivo do pagamento do serviço da dívida, em novembro e no início deste ano, o aumento da corrupção, de mãos dadas com a propagação do betão nos últimos cinco anos, e, sobretudo, a escalada da inflação, atualmente nos 22%.
Mais de metade dos 17 milhões de zambianos vive atualmente abaixo do limiar de pobreza, mas os preços da alimentação são hoje um terço mais caros do que há um ano.
Mais de 800 candidatos da Frente Patriótica (PF, na sigla em inglês), liderada por Lungu, do Partido Unido para o Desenvolvimento Nacional (UPND), de Hichilema, e de outros partidos mais pequenos irão disputar os 156 lugares no parlamento. Em eleição estarão ainda os executivos provinciais.
Lungu chegou ao poder em 2015, através de uma eleição determinada pela morte do anterior Presidente, Michael Sata, e foi novamente reeleito em 2016 para uma legislatura de cinco anos, numa vitória com uma margem muito estreita (50,4%) em relação a Hichilema (47,6%).
Não obstante o peso da carta étnica, o comportamento do eleitorado urbano será decisivo no resultado do escrutínio presidencial, sobretudo em cidades como Lusaca e Ndola, capital da região de Copperbelt, a mais rica do país, onde o apoio ao PF parece estar a diminuir.
O partido no poder perdeu uma eleição intercalar na província de Copperbelt em 2019 e, apesar das restrições impostas pelo Governo a pretexto da pandemia, tem havido grandes concentrações da oposição na capital.
É provável que haja disputas sobre o resultado, vaticinou Nic Cheeseman, professor de Política Africana na Universidade de Birmingham, em declarações à Associated Press. "Vai ser uma eleição muito disputada. Vai ser altamente controversa. Seja qual for o candidato que perder, rejeitará os resultados. Significa que vamos ter uma crise política depois das eleições", acrescentou.
Será que Lungu concederá a derrota se for derrotado? O'Brien Kaaba, um advogado em Lusaca, respondeu à AFP que "há apreensão" sobre isso, admitindo: "O patrulhamento militar das ruas está a criar uma nova dinâmica, que é difícil de decifrar".
"Estas são as eleições mais imprevisíveis na Zâmbia desde a independência", afirmou à Bloomberg Zaynab Mohamed, analista político da NKC African Economics, sediada na África do Sul. "Manipulação, atos de violência e intimidação contra membros da oposição levantam preocupações sobre a credibilidade e equidade das eleições", concluiu. (RM /NMinuto)
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